estória §104


Mais um dia e acaba 2011. Um milésimo de segundo apenas. É o suficiente para algo acabar. É o suficiente para algo novo ter lugar. Para se (re)começar do zero. Quer dizer, pode-se (re)começar em qualquer altura, mas nesta em específico todas as pessoas (re)começam mesmo que não queiram. Volta tudo ao início. E novos dias se avizinham. Novos dias que vão voar como os deste ano. Passou tudo tão rápido. Ainda está tão fresco na memória as coisas que aconteceram há um ano atrás. As coisas que aconteceram no início de 2011. Os sorrisos que haviam, o desejo de algo novo começar, a pressa da escolha do estágio, a esperança que havia no coração. Ainda parece que foi ontem. Mas tudo passou num abrir e fechar de olhos. Algumas lágrimas vieram, o desejo foi mudado, a pressa cessou e deu lugar ao cansaço e a esperança fugiu do coração por uns longos meses. A vida mudou neste ano. Mais trabalho, menos tempo com as pessoas que gostamos. Pessoas novas entraram na nossa vida, umas já a contar, outras de uma forma inesperada que vieram melhorar os dias. Vieram trazer um bocadinho de esperança ao coração, mas este continua meio preso ao passado. Por mais que chegue um novo ano, que haja um novo (re)começo, há coisas que ficam para sempre em nós, “nódoas” que não saem por mais que se tente. Mas para contrabalançar, há bons momentos que nos aquecem o coração e que também ficam gravados em nós. E são esses que nos dão força para continuar de cada vez que caímos ou encontramos uma dificuldade. É isso que fica no fim. O que aprendemos dos erros e o que nos fez continuar. É o que fica para o novo ano. E é isso que no fundo todos queremos. Porque toda a gente erra e todos nós precisamos de algo do nosso lado.
Bom Ano 2012!

estória §103


Não houve postais nem e-mails de natal este ano. Não houve neve no dia 25. Não há também luzes de natal pelas ruas. Não há espírito de natal por aqui. Também não houve pedidos de nada em especial. Não sinto falta de nada material. Apenas quero isto. Apenas quero que tudo corra pelo melhor. Apenas dias melhores. Apenas mais sorrisos, mais risos, mais abraços, mais amor. Pode parecer cliché. Mas é tudo o que quero. E é tudo o que desejo também.
Feliz Natal!

estória §102


Crescer é difícil. Quem dizer o contrário é porque se calhar ainda não cresceu. É difícil ser adulto. É difícil ter responsabilidades. É difícil perceber melhor as coisas do que outrora. É difícil aqueles dias em que a vida pode ser tão dura connosco, como nunca antes tínhamos imaginado. E isso torna-nos pequeninos, crianças que só querem chorar e só querem que haja alguém que as abrace e diga que já vai passar. Há dias que ficamos assim e só isso nos consola. E então, há dias que conseguimos isso, que arranjamos esse alguém que nos aquece o coração. Mas há outros em que estamos sozinhos, em que temos que ser o nosso próprio consolo e tratar o melhor possível de nós próprios mesmo que a vontade não seja nenhuma. Nesses dias mostramos o forte que somos, que conseguimos seguir em frente sozinhos quando tudo à volta nos deita a baixo. Há pessoas que gostam mais assim – sozinhos resolvem as coisas melhor, não precisam de ninguém; e depois há quem precise do ombro amigo, do abraço que pode salvar o dia. Isso pode ser tudo.

estória §101


Por vezes não percebemos o que uma pessoa nos faz sentir. Não conseguimos descobrir as sensações que ela nos provoca. É como se estivesse enublado. Sabemos que há lá algo, mas não o que é. Mas independentemente disso gostamos da sua companhia, das conversas, dos risos e começamos a ligar-nos a ela. E quanto mais tempo passa, mais sentimos que gostamos de estar com ela, que queremos isso. Tudo isto se torna muito confuso. Tudo isto pode levar a uma insegurança. Insegurança por se estar a ir por um caminho que não se conhece. Como que se tivéssemos um mapa mas simplesmente não nos conseguimos orientar, pois não entendemos nada do que está lá escrito, numa língua que não conhecemos. E esperamos de uma forma um pouco desesperada que as coisas se tornem claras, que encontremos alguém no caminho que nos entenda, que apareça uma placa com palavras reconhecíveis e que nos deixe menos confusos. E enquanto isso não chega, imaginamos isso e começamos a ter expectativas, algumas se calhar grandes de mais. Podemos até ter medo. Medo de não sabermos onde nos estamos a meter. Medo de acabar no mesmo sítio, no sítio de onde queríamos sair.

estória §100


Os anos passam por duas pessoas. São tantos anos, tantos momentos, tantos sorrisos, tantas conversas, tantos silêncios, tanta coisa que a vida nos trouxe, tanto que a tua vida me trouxe e tanto que a minha vida te trouxe. E chega a um momento que parece que estamos sempre a dizer o mesmo, a lembrar as coisas vezes e vezes sem conta, mas não cansa. Não cansa quando se gosta. Não cansa quando sabes que é uma daquelas pessoas que podes contar para o resto da vida e se mais vida houve para além desta, saberias que poderias contar com essa pessoa à mesma. Porque não importa mais nada, não importa como essa pessoa é, não importa os defeitos e as qualidades, não importa os gostos, não importa onde vive. O que é importante é que se que gosta simplesmente. Ama-se. Atrevo-me a dizer que são essas pessoas – os amigos - que se poderá amar mais na vida, porque somos nós que os escolhemos. A vida, o destino, algo do género, tem o poder de colocar essas pessoas no nosso caminho, para que a gente tropece nelas e repare nelas. Mas depois, depois somos nós que decidimos o resto: ficar ou não com elas. Somos nós que os escolhemos manter ao nosso lado.

estória §99


“The less you care, the happier you will be…”

Por mais que já tenhas pensado em algo que poderia acontecer, que tenhas aperfeiçoado esse momento vezes e vezes sem conta, imaginado todos os pormenores e acrescentando todos os detalhes essenciais para ficares feliz e afirmares ‘Era mesmo isto que eu queria!’, a vida tem uma capacidade imensa de te surpreender. A vida não te dá exactamente o que querias, o que tinhas imaginado. A vida dá-te momentos pelos quais não esperavas. Para o melhor e para o pior. A vida dá-te momentos que serão importantes para ti, mesmo que no momento em que eles acontecem tu não te dês conta de tal importância, mesmo que não os percebas. Mas depois, ao olhares para trás, ao recordá-los, dás-te conta que não esperavas tal coisa, que por mais que tenhas uma imaginação fértil, isso não te tinha passado na cabeça e dás-te conta depois que precisavas mesmo disso e, no fundo, era o que querias mesmo sem saber. Há coisas assim, que te deixam sem palavras, sem entenderes o porquê disso, sem fazeres a mínima ideia do que sentes e do que é aquilo ao certo. No fundo, sabes apenas que era isso que precisavas para avançares em frente. Que aquilo foi o modo de a vida de dar um empurrãozinho à tua própria vida. 

estória §98


Cada pessoa tem na vida o que merece. Esquecendo o sentido negativo associado a esta frase, acredito que cada pessoa tem o que merece, o que necessita de verdade para ser feliz. E existem muitos modos de uma pessoa ser feliz. Se por um lado acredito que somos nós que fazemos o nosso próprio caminho, também acredito, por outro lado, que há coisas que já estão destinadas a acontecer-nos. Existem vários ‘pacotes’ de felicidade, tantos quanto a imaginação permita, porque o que pode ser o auge de felicidade para mim, pode não o ser para outra pessoa. Por isso, há que haver diversidade, para agradar a gregos e a troianos. Esses ‘pacotes’ são a parte destinada a acontecer na vida de cada um. E tudo o resto depende de cada pessoa. O caminho que cada um de nós escolhe depende dele. Apenas dele próprio, das escolhas que faz, do que permite ficar ou não na sua vida. Acho que se pode dizer que temos sorte quando escolhemos o caminho que está no ‘pacote’ que nos foi destinado, atingindo a nossa felicidade. Nem sempre percebemos à primeira qual é o nosso ‘pacote’. E por vezes, isso torna-se bastante difícil. E ficamos fartos por a vida nos correr mal. Ao fim ao cabo, foram as nossas escolhas que nos puseram na situação em que estamos. Outras vezes, desejamos tanto outro ‘pacote’, outro ‘final feliz’ para nós, que ficamos cegos e torna-se difícil ver qual é mesmo o nosso ‘final feliz’. Todas as pessoas querem um. Todas querem um ‘final feliz’. E por isso é que por vezes ficamos com inveja dos ‘finais felizes’ das outras pessoas que estão ao nosso redor. Porque nós só queremos um também. Apenas isso. Mas precisamos de nos afastar disso. Situarmo-nos num plano superior e pensar que há outros modos de ser feliz. Pensar que existem milhares de ‘pacotes’ e que talvez é hora de nos desviarmos do caminho que tomámos como garantido. Arranjar coragem e escolher outro. Começar do zero. Porque pode ser esse caminho desconhecido a nossa sorte.

estória §97


Ela não quer o que as outras pessoas têm. Não quer isso exactamente. Ela quer algo do mesmo género do que as outras pessoas têm. É isso. Ela quer isso com todas as suas forças. Mas neste momento ela pensa que o mundo conspira contra ela. Ela acha que isso que quer nunca irá acontecer realmente, a não ser em sonhos. E é disso que ela tem inveja. É por causa disso que ela se corrói a maioria do tempo. Ela deseja tanto isso. Mas as outras pessoas disseram-lhe para largar. E ela ficou frustrada com elas. E agora sente isto que nunca sentiu na sua vida; este sentimento de querer ter o mesmo que elas sem o querer exactamente. E ela pensa porque é que as outras pessoas podem ter e ela não. Porque é que tem que largar aquilo que ela mais deseja. Porque é que as coisas não são como quando ela sonha acordada. Ela pensa que o mundo conspira contra ela. E sente o que nunca sentiu antes. E detesta-se por isso.

estória §96


Quando chega a noite, a cabeça começa a andar a mil à hora. E o coração acompanha-o nessa viagem. Às vezes chega a ser assustador. As coisas passam umas a seguir às outras, nem se vê ao certo o que é o quê, não se percebe nada em concreto. Assusta mesmo. Deixar o pensamento ir atrás disso é o pior. Tudo se mistura com tudo. Pensamentos, imaginação, factos e esperanças.

estória §95


‘E se eu te dissesse ‘Olá!’?’, pensa ela com o coração nas mãos, a olhar para ambos os lados como se estivesse a fazer algo errado e na esperança que ninguém a visse. Ou melhor, na esperança que ninguém lhe leia o pensamento e lhe diga automaticamente que não o deve fazer, que não deve pensar naquelas coisas, que não deve pensar nele. Mas ele está ali. Presente como nunca no seu pensamento e é tão tão difícil largá-lo para trás e seguir. É tão tão difícil vê-lo ali num pequeno quadradinho do seu ecrã e não fazer nada. Provavelmente ele não iria responder. O quadradinho iria desaparecer e ela até poderia dizer para si mesma que calhou ele ir-se embora quando ela resolveu dizer-lhe ‘Olá!’. Foi apenas uma coincidência. Não. Isto seria uma desculpa que ela dava a se mesma, para se consolar. Mas só estava a enganar-se a ela própria. No fim, ela conseguiu não dizer-lhe ‘Olá!’. Conseguiu não o dizer hoje.

estória §94


Já lá vai algum tempo. Pouco tempo. Para mim parece muito tempo. Mesmo muito. Mas foi só um mês e meio. É pouco tempo. Se bem que é tempo suficiente para acontecer tudo e mais alguma coisa e a vida de uma pessoa tomar um rumo completamente diferente. Sim, era o que eu gostava [desejava] que tivesse acontecido com a minha vida. Mas continua tudo na mesma. Não está bem igual à um mês e meio atrás. Mas está muito parecida. Parecida demais para o meu gosto. Continuas lá. És como uma nódoa. Às vezes há nódoas bem difíceis de tirar. Tu és assim. Ainda hoje, tentei com todos os produtos e mais alguns tirar umas nódoas de uma mala assim já velhinha que usava em pequena, e não consegui. Decidi ficar com ela à mesma. Guardá-la porque gosto demasiado dela para a deitar fora. Faz-me lembrar coisas boas. Momentos bons. Pessoas que numa certa altura da minha vida foram importante e essenciais para mim. Mesmo que agora não façam parte da minha vida. Nada do que aquela mala me faz lembrar faz parte da minha vida actual. Mas é bom lembrar. Aquece o coração. E apesar de ter aquelas nódoas difíceis de tirar, eu vou ficar com ela. Guarda-la no armário ao lado das outras malas. E tu és assim. Uma nódoa [bem] difícil de tirar de uma etapa da minha vida. A qual não quero deitar fora porque fui feliz lá. Faz-me lembrar coisas boas. Momentos bons. Alguém que foi importante para mim. E apagar essa nódoa, [apagar-te], seria deitar fora tais momentos. E eu não seria a mesma sem esses momentos. Ainda é cedo para dizer. Mas acho que vou-te guardar para sempre no meu armário. Não mereces, mas vais ter um lugar especial lá. Sim, podes-te sentir vaidoso. E eu posso-me sentir um pouco estúpida. Mas quando se gosta é assim.

estória §93


Passou uma semana. E ela conseguiu cumprir a promessa que fizera aos outros, e que fizera sobretudo a ela mesma. Orgulhosa disso? Nem por isso. Ainda não “acreditava” que isto seria o melhor para ela. Ainda queria tanto falar com ele, estar com ele, resolver as coisas com ele. Mas a verdade é que durante esta semana ele não lhe dissera nada, tal como ela esperara que acontecesse. Ela própria dissera ‘Assim que eu deixar de falar, ele não vai dizer mais nada..’. E assim foi. Pelo menos durante esta semana. No seu íntimo, ela tinha mais uma esperança que ele pudesse dizer-lhe algo, que sentisse “falta” e lhe falasse nem que fosse só um ‘olá!’. Mas depois, a outra metade de si, sabia que isso nunca iria acontecer, sabia que nunca mais iriam falar. E andava a convencer-se que isto era o melhor para si. Uma semana tinha passado e ela continuava com dificuldades a “acreditar” nisso. Mas uma coisa é certa, ela tinha conseguido cumprir a promessa. E tinha de continuar a cumprir. Um dia, sem se aperceber, isto já não faria parte das “coisas importantes”, seria uma mera recordação.

estória §92


É tempo de tomar outro caminho. Os verões servem para isso. Deixar para trás, encerrar um capítulo e ter a coragem de dar o primeiro passo, novamente. No verão é a escola que acaba, é a faculdade que acaba, é o trabalho que acaba, são amizades que terminam, são amores que se enterram. É no verão que a praia chega, que o sol vem em todo o seu esplendor, que os trabalhos de verão começam, que está a dispor novas oportunidades, novas pessoas, novos sorrisos, novos abraços. É a meta e a partida.
Hoje é o dia de começar um novo caminho. Hoje : )


estória §91


Ela estava tão nervosa como da primeira vez que se encontrara com ele, naquela noite fria de Dezembro do ano passado. Já fora há tanto tempo, mas ela recordava-se do momento de nervosismo por ir passear só com ele. Agora aqui estava ela, deitada no sofá a ver televisão. Todavia a sua atenção não estava no filme banal que passava na tv sobre 4 amigos. O coração batia a mais de 100 à hora, o peito estava apertado e ela pensava que estava mais nervosa que nessa noite em que foi passear com ele. O pensamento dela vagueava entre o passado e as suas expectativas sobre o futuro. Ela queria tanto falar com ele e esclarecer as coisas e, ao mesmo tempo e neste exacto momento, não sabia se o queria mesmo. Estava tão nervosa que o medo começa a espreitar e a sua determinação em esclarecer as coisas estava-se a desmoronar. Perguntas e perguntas invadiam-lhe a cabeça. Será que ainda tinha alguma lógica ela ir falar disso? Será que era mesmo o que ela queria fazer? Será que devia desistir e seguir em frente sem olhar para trás? E se ela não conseguisse falar disso? E se fosse isto uma estupidez e os outros tivessem razão? E se ele dissesse o que ela desejaria ouvir? Estava a ficar atormentada e cada vez mais nervosa e ansiosa pela hipótese de se ir encontrar com ele ao fim deste tempo todo e depois de múltiplas tentativas sem sucesso. Sentou-se no sofá e pensou que não podia ser assim. Que ela dissera sempre que daria tudo para poder falar com ele e esclarecer isto. E que tinha que ter a coragem para o fazer agora que essa oportunidade estava a bater à porta. Não podia acanhar-se e ficar com medo. Isso era o que ele andara a fazer durante estes meses. A evitar encontrar-se com ela, a evitar responder às mensagens, às perguntas sobre isto e a todas as hipóteses que ela lhe dissera haver entre eles e às quais ele não respondeu nem sim nem sopas. Ele era aquele que não demonstrara coragem nem vontade. Ela era aquela que queria esclarecer tudo e, que no fundo, tinha uma esperança ínfima que as coisas pudessem acabar bem. Contra todos os factos que tivera ao longo destes meses, ela ainda tinha essa esperança. Ela dizia que precisa de ouvir da boca dele o que pensava para que pudesse seguir o seu caminho. Todos lhe diziam que não devia de insistir mais nisto, pois ele já tinha demonstrado o que queria, ou melhor, o que não queria, e que isto só a iria magoar mais. Mas a sua teimosia e a esperança que existia ainda no seu pequeno coração, faziam-na avançar com toda esta história. Ela tinha de conseguir e tinha que mostrar aos outros que sim, ela poderia sair muito mais magoada, mas que aquilo lhe iria fazer bem, no final, para poder continuar o seu caminho. Era por ela que ela queria fazer isto. No fundo, ela desejava tanto ter alguém ao lado dela, alguém que lhe desse atenção, miminhos e abraços e a quem ela pudesse dar isso também. Ela precisava disso, pensava que de outra maneira seria tão difícil caminhar daqui para a frente. E com esta atitude ela estava a ser egoísta e a não dar o merecido valor àqueles que ela tinha à sua volta, que sempre estavam lá para ela e que lhe davam todo o apoio, independentemente se concordavam ou não, como neste caso. No fundo, ela tinha noção disto, mas ela estava com tantas certezas que não conseguia seguir o seu caminho se não insistisse neste encontro. Tinha mesmo que acontecer e ela tinha que ter coragem e não sofrer por antecipação. As coisas iam ficar esclarecidas, fosse como fosse.

estória §90


És uma coisa que me afecta. E afectas-me mais do que aquilo que devias afectar. Quer dizer, não me devias de afectar em nada. Não devias ter esse poder sobre mim. Porque eu devia de me estar a lixar para ti. Mesmo que não queiras e que eu não queira, acaba por ainda haver uma esperança ínfima, tão ínfima que mal se nota, mas que para mim significa muito. Depois tiras-me essa esperança como se me tirassem o chão e eu caio sem saber o que fazer para impedir isso. E isto acontece sempre e sempre, e vai voltar a acontecer. Não devia ser assim. Mais uma vez digo que não devia ser assim. Eu não tenho este poder em ti e tu não o devias ter em mim. Não. Mas eu sou a culpada disso. Dou importância a uma coisa que não merece. Permito que isso entre na minha vida e a comande em demasia. Mas eu sou assim. Esta sou eu. A dar importância a quem não merece, a quem não me dá nem metade. E eu apenas queria que me desses um bocadinho do teu tempo. Meia hora, talvez mais talvez menos. Dependia de ti também. Mas talvez meia hora fosse suficiente. Contudo, parece que não tens esse tempo para mim. Não tens, não queres. Foges. Sinto que foges disto. Acho que não tens coragem para vir ter comigo e falarmos. Sim, porque eu só quero conversar contigo.

estória §89


A gaveta continua aberta. Aquela. Sim, essa gaveta mesmo. Não a consigo fechar. Não me deixam fechá-la, é a minha versão da história. Se calhar alguém no meu lugar já a tinha fechado. Pois… Se calhar sou eu que não a quer fechar. Se calhar sou eu que anda a adiar isto e a inventar desculpas para mim própria para não ter que fechá-la. Mas eu quero fechar essa gaveta... Quero, sim! Não me interessa o que vai estar lá dentro, mas não quero que ela continue aberta. Está ali há demasiado tempo assim… Pois, mas continuo a adiar isso. Mas eu preciso primeiro daquilo para depois a fechar de vez! Não me interessa no que vai dar. Preciso de factos. Sem isso não consigo fechá-la. Sou teimosa, sou. Não me interessa mesmo mais nada… Só quero mais um facto. Só.

estória §88



I’d trade anything just to have those seconds of your time you are spending now with them. I wish you know how deeply I wanted to talk to you. We haven’t seen each others for days. I guess you’re okay. I will be, soon.

Falar contigo. Estar contigo. Quero tanto. E tu sabes disso, mas finges que não sabes ou então pouco de importa isso. Pouco te importo eu. E tenho medo de saber isso.. Que essa seja a verdade. Não sei se estás mesmo bem. Pareces estar. Eu não estou. Não estou bem e não sei quando vou ficar. Em não é de certeza. Só vou ficar um bocadinho melhor [não bem, mas um bocadinho melhor] quando falar contigo e perceber se pouco te importo ou não. Eu queria que fosse ou não. Queria que “voltássemos” atrás.
[miss you.. so much] *

estória §87


Nesta altura do campeonato as coisas não deviam estar assim como estão. Em vez de correr em direcção à meta, com toda aquela vontade e orgulho de mim mesma como quem está prestes a chegar lá, não. Sinto-me como um caranguejo. Um bocadinho a andar para trás.. Só aconteceu coisas que não deviam de acontecer, coisas que eu não contava que acontecessem, coisas que eu não queria que ficassem trilhadas no meu caminho. Está a ser uma má temporada. Coisas más parecem que só atraem coisas más. É isto que está a acontecer. E que me prendem. Que o meu coração me faz prender. Ele está tão apertado que não consegue fazer mais nada se não agarrar-se à pouquíssima esperança que há em relação a isso. Agarra-se e depois vem um vento fraquinho que o faz tremer, que é como uma ajuda para que ele se solte e siga a sua viagem, mas ele apenas se deixa estar e de tanto esforço para se segurar, chora. Chora. Sinto-me presa na corrida. Sinto-me cheia de coisas más. Sinto que isto não vai passar assim tão rápido. Sinto a meta bem lá ao fundo, cada fez mais distante. Sinto que apenas eu tenho as armas para ainda arrasar nesta temporada. Mas sinto-me tão impotente.

estória §86


Porque a vida, a nossa vida, é tanta coisa. Não se resume só a isto ou aquilo. É repleta. De coisas boas, de coisas menos boas, de coisas más e de coisas ruins (as quais dispensávamos). Mas ela é cheia de tudo! Não importa o que são, quem são, como são, que classificação lhes atribuímos num momento. O que importa é que é. E, por vezes, estamos tão focados em algo, com a cabeça e o coração sempre a apontar na mesma direcção que ficamos cegos e não vemos o resto. Não vemos, nem de perto, tudo o que está à nossa volta e que pertence também à nossa vida. Acontece isto muitas vezes. É como se tivéssemos “mergulhado” a cabeça na areia, tal como a avestruz. E isso, impede-nos de vermos as outras coisas, sejam elas boas, menos boas, más ou ruins. Se experimentarmos tirar a cabeça da areia e olhar ao nosso redor, vamos ficar bem melhores. Quer dizer, não vai desaparecer o que nos mantinha tão focados. O buraco onde tínhamos a cabeça não desaparece assim do nada. Mas, vai sendo tapado com a ajuda do vento que leva a areia ao redor para lá. As outras coisas (boas, menos boas, más e ruins) que estão à nossa volta, e as quais não víamos, vão ajudar a desvanecer a tal coisas que nos prendia o pensamento e a emoção. Vamos desanuviar a cabeça. Vamos saber ter uma postura diferente. E vamos saber aproveitar muito mais da vida, da nossa vida.



estória §85


Chega a uma altura em que nos fartamos de tudo. Mas de tudo mesmo. Fartamo-nos do nosso dia-a-dia. Fartamo-nos da rotina de casa. Fartamo-nos do trabalho de sempre. Sempre o mesmo sítio. Sempre o mesmo caminho. Sempre as mesmas coisas para fazer. Fartamo-nos das pessoas com quem nos cruzamos. De todas. De tudo o que fazem ou não fazem. De tudo o que dizem ou não dizem. Daquelas que são próximas e das que estão próximas. Daquelas que estão longe e perto ao mesmo tempo. Fartamo-nos de todas, da maioria ou apenas de algumas. Mas fartamo-nos. E podemos até nos fartar daquelas que nos amam incondicionalmente ou das que nós amamos incondicionalmente. Mas não é por mal. E não significa que deixássemos de as amar. Mas aconteceu naquele momento, fartámo-nos. E mais grave é pensarmos que a “culpa” é delas. Normalmente, a “culpa” é de nós próprios. Está cá dentro. E nós não nos apercebemos disso. Apenas achamos que o mundo está ao contrário. E contra nós. E então, fartamo-nos. E só queremos ter o dom de mudar tudo, ou algumas coisas, na nossa vida, naquele momento. Porque pensamos que já não dá mais, já não aguentamos mais. Não aguentamos (nem queremos) nada mais contra nós, contra o que nós queremos para nós. Queremos que as coisas mudem. Que as pessoas mudem. Não vemos que o tem que mudar ou quem tem que mudar somos nós. E até vermos isso e percebermos isso, vamos estar sempre fartos. De tudo. De todos. Cada vez mais.
Mas não é por mal. Simplesmente, naquele momento, fartamo-nos de tudo e de todos.


estória §84

O intervalo ainda não acabou. Foi o que disse há tempo. Estava tudo noutras mãos que não as minhas. E continua tudo a estar nessa outras mãos. E eu continuo quieta. Continuo sentada em frente à gaveta. Apenas a fechei um bocado. As coisas mudaram levemente. Demoraram um mês, é certo, mas a coisa está agora com outro aspecto, continuando contudo muito parecida ao que estava. Mas com esta minúscula mudança eu resolvi deixar apenas uma frechinha da gaveta aberta. E aumentei o tempo do intervalo. Vou deixar as coisas assim por um tempo que espero não seja muito demorado. Um mês é muito tempo mesmo. E depois pode acabar por ser tempo perdido. Por isso peço(-te) que não tenha que esperar mais um mês. Não me faz bem. Eu não sou assim tão forte. E depois? Depois custa muito mais andar com as coisas para a frente. Custa muito mais arrumar tudo, pôr um ponto final e fechar a gaveta. Ter de tomar essa decisão por mim (e por ti). Custa porque eu não quero ter de fazer isso. Eu quero que as coisas sigam outro caminho. Quero fechar aquela gaveta sem ter de pôr as (tuas) coisas lá dentro. Quero continuar com elas no meu dia-a-dia.
Por isso o intervalo aumentou. Eu continuo sentada à espera. E as coisas continuam noutras mãos.

estória §83


Comecei[-te] a arrumar. Abri uma gaveta das que estavam vazias na grande estante que tenho [em mim]. Não gosto de arrumar estas coisas. Só gosto de mais tarde as rever e sorrir com tudo o que me vem à cabeça. Mas para isso terei sem dúvida de [te] arrumar. Hoje abri a gaveta. Tomei esta árdua decisão. O que custa é o primeiro passo, é o que se diz. Espero que agora os outros passos venham mais naturalmente e não exijam tanto de mim. Fico exausta. E só me apetece deitar-me, fechar os olhos e pensar que tudo poderá ficar bem. Mas a vida não é assim tão fácil. As coisas nem sempre são como nós gostaríamos. E isto está bem longe de ser o que que queria. Mas hoje abri a gaveta. E estou sentada em frente dela simplesmente a olhar. E acabei por decidir que [te] ia dar a última oportunidade antes de arrumar definitivamente as [tuas] coisas. Espero que este pequeno intervalo seja aproveitado. E que as coisas tomem o rumo [que tu aches] certo. Eu sei qual seria esse rumo. Mas não sou eu que vou decidir isso. Não me compete a mim decidir muito mais coisas. Não vou fazer muito mais. Vou ficar quieta. Deixar o intervalo passar e depois arregaçar as mangas e arrumar[-te], com o objectivo, não de [te] esquecer, mas sim de organizar a vida e começar um novo caminho e mais recordar tudo.

A gaveta ainda está aberta. E o intervalo ainda não acabou.

estória §82


Fiquei com saudades vossas. Saudades do grupo. Saudades dos encontros. Saudades de estarmos juntos uns quantos dias em tantos lugares diferentes que já tivemos. Refilávamos de algumas coisas.. Ter de levantar cedo. Termos de fazer isto e aquilo. Não podermos falar. Termos que escrever sobre algo. Reflectir. Mas sabia tão bem ao mesmo tempo. Sabia bem estarmos juntos. Fazia-me bem. Eu já sabia. Mas agora, que não há "isso", é que me apercebo realmente o bem que isso me fazia. Era feliz. Uma criança feliz. Lembram-se? Crianças felizes. Nós. E com isto tantas histórias. A cantar a porta das casas-de-banho. As broas. O doce de morango. Andarmos na bagageira do carro. As festas nos quartos sem ninguém saber. As "SS e as Bandoletes". Os "nossos" nomes. E mais uma data de coisas. Que saudades! E todas as músicas. O que eu mais quero é ver-te cair.. Estou apaixonada!.. O caminho está dentro de ti.. A estrela polar és tu.. És o tesouro, és o sorriso infinito.. E tantas, tantas outras. Hoje fiquei mesmo com saudades*

Saudades é o que resume tudo isto, todas vocês.

estória §81


"Each second we live is a new and unique moment of the universe, a moment that will never be again. Do you know what you are? You are marvel. You are unique. In all the years that have passed there has never been another child like you. Your legs, your arms, your clever fingers, the way you move. You may become a Shakespeare, a Michelangelo, a Beethoven. You have the capacity for anything. Yes, you are marvel."
*Pablo Picasso

O ser humano quer ser sempre algo. É esse um dos seus grandes objectivos na vida. Se não o maior objectivo dele. Nosso. Não queremos ser “um qualquer”. Queremos ser nós. Queremos saber quem somos. Queremos que os outros saibam quem somos. E tudo isto logo desde pequeninos. ‘E o que queres ser quando fores grande?’, pergunta(ra)m-nos tantas e tantas vezes. Às vezes não sabíamos o que queríamos. Ou então, queríamos muitas coisas. E enquanto crescíamos fomos mudando quem queríamos ser. Se calhar, olhando agora para trás, não somos isso que queríamos. Mas garantimos a nós mesmos que somo alguém. Somos sempre alguém a partir do momento em que fomos concebidos. Mas não é nesse sentido que o ser humano pensa quando se refere a este assunto de tamanha importância na vida dele. É ser alguém que tenha algo, que tenha conseguido alcançar algo, que tenha vingado. E, principalmente, que isso seja visível aos olhos dos outros que o rodeiam. Isto é ser alguém, segundo o comum dos mortais. É importante para ele pensar que sim, que é alguém reconhecido pelos outros. Muitas vezes esta imagem de algum poder que queremos mostrar aos outros que temos chega a ser mais importante do que na verdade somos mesmo, de admitir isso para nós próprios. O que somos? O que somos mesmo? Lá o fundo? Qual a “essência”? Qual a tua “essência”? Será que somos “grandes”, ou melhor “crescidos”, o suficiente para olhar para nós próprios, para o “nosso umbigo” e admitirmos o que somos na realidade? De ver que afinal somos o que queríamos quando éramos pequeninos. De ver que somos algo parecido ou tão diferente do que queríamos ser. E de reparar que independentemente disso somos nós. Um ser humano igual a tantos outros. Mas com algo especial. Com uma maneira diferente de olhar o mundo. Com desejos e sonhos por concretizar. Com metas a atingir. Com todos os defeitos e feitios. Gostos e desgostos. Que já passou por muitos obstáculos e os venceu. Que já percorreu um grande caminho. Que já conheceu muitas pessoas. Que tudo isto faz a sua bagagem. E que tudo isto o faz ser quem é agora. Isto é a essência do ser humano. E quando ele vir isso, os outros também o vão ver. Sem ele ter que fazer “por mostrar” aos outros quem é, ou quem quer que os outros vejam que ele é.


estória §80


Porque nada é perfeito. Nada nem ninguém. Porque nós próprios não somos perfeitos nem podemos pensar que o somos nem exigir ou pensar que os outros o sejam. Eu não quero que ninguém seja perfeito. Mas posso pedir que sejam mais compreensíveis, que não comecem logo a “disparatar” sem mais nem menos. Será que não dão conta que o fazem?

estória §79


O tempo passa. Os dias tão depressa mostram o sol como logo a seguir o escondem por de trás dos seus braços, e a chuva aparece. Não gosto disso. Do tempo a passar rápido. Da chuva. Não gosto. Gosto dos dias em que está aquele sol que nos aquece a alma. E não se sente o tempo a passar. Parece sempre o mesmo tempo. E uma pessoa fica ali. Sentada no parapeito. De frente para o sol. Com as mãos por baixo das pernas. E fica ali tão quieta. Aninhada em si própria. Parece que tudo pára. Tu e o sol. Olha-o mas fecha os olhos. Basta apenas senti-lo para saber que ele está lá. E sabe tão bem aquele calor. Mas não calor demais. Apenas o suficiente para isso, para nos aquecer a alma. Como se alguém nos abraçasse. É destes dias que eu gosto. É tão bom sentirmo-nos abraçados. Envoltos por algo que apenas se sente.

estória §78


Dois tolos. Esperando que algo acontecesse mas sem fazer nada para que isso acontecesse. Quase como que quando se quer sumo de laranja natural mas não se tem laranjas. É impossível. E quem pensar o contrário é mesmo tolo. Sem laranjas não há sumo. Sem um bocadinho de coragem não há nada.

estória §77


Queres sempre tudo. Queres sempre tudo do teu jeito. És assim e não admites isso. Acontece uma coisa e começas logo a pensar nisto e naquilo. No que poderia acontecer, como poderia acontecer. Pensas, ‘mas toda a gente não quer o melhor para si?!’. Sim, elas querem. Mas tu imaginas muito, fantasias muito para além do que é real, realmente real. Pará. Por favor. É para o teu bem. Mas não queres acreditar nisso. Dizes que não consegues parar de pensar, de querer as coisas todas. E depois com o tempo vês que as coisas não acontecem, vês que nada corre como pensaste, como querias. E isso deixa-te triste. Contentas-te com pouco, é certo. E não é mau. Ficas feliz por algo simples. Mas depois pensas e pensas. Não podes pensar logo em tudo. E depois vais-te abaixo com facilidade. Apesar de tentares não mostrares e disseres que vais esperar e deixar as coisas andarem. Mas isso não é verdade. Tu ficas triste. Ficas triste logo quando alguma coisa, por mínima que seja, não corre do teu agrado. E começas logo a pensar, tal como fazes quando estás feliz. E pensas logo no pior, tal como pensas no melhor que poderia acontecer quando estás feliz. És de opostos. Sabes disso? Já te deste conta? Não, eu sei. Se calhar, estás a aperceber-te disso neste exacto momento. E pensas, ‘no fundo eu já sabia, no fundo eu sabia tudo isto que está aqui’. Pois sabes, eu sei que sim, mas simplesmente não tens coragem para o dizer em voz alta. Tu que até falas alto. Mas apenas consegues “dizer” estas coisas todas no teu pensamento, onde os outros não conseguem ver ou ouvir.

Tens que ser crescida o suficiente e teres coragem, rapariga. Para admitires que és de opostos. Que ficas feliz e triste facilmente. Que tens os sentimentos à flor da pele. Que pensas demasiado também. Fantasias e imaginas muito. Voas demasiado alto e depois a queda é grande, nunca ouviste? Já, eu sei. Queres também tudo e mais tudo. Depois de te contentares com pouco queres sempre mais e mais. E quando não consegues isso, voltas a pensar demasiado. És assim. E já não é defeito, é feito. E isto não te faz bem. Tens que aproveitar tudo no momento e viveres isso. Tu dizes que agora fazes isso, mas continuas a pensar muito no depois. Prendeste muito a isso. Não podes. Deixa-te levar. Deixa as coisas irem. Sem preocupação. Sem imaginar muito. Sem queres demasiado. Para não ficares tão triste facilmente. Vais ver como é melhor. Como depois andas mais contente, mais feliz. Afinal, é isso que se quer da vida: ser feliz.

Tudo isto dito por uma voz. Uma voz dentro de mim.

estória §76


“(…)és a minha maninha que mora na minha rua hehehehehe”

Sim, sou a tua maninha, és a minha maninha. Posso não ter maninhas de “verdade”, mas tu és mais que verdade, existes! És do coração. E quem é do coração, do nosso coração, é mesmo de verdade!

Podes contar sempre comigo,
Beijo grande,
da tua maninha do coração que mora na mesma rua que tu.. Ah, espera, que vai morar sempre na mesma rua que tu, estejamos aonde estivermos *

Parabéns bebé ^^

estória §75


Dar o salto. Ter a coragem suficiente para saltares de um precipício sem saberes o que está lá em baixo. Sem teres a certeza de nada. Porque não tens. Estás presa por uma corda. Mas não sabes mais nada. Podes ficar para sempre cá em cima. Agarras a corda com as duas mãos, bem firmes mas suadas, e não param quietas para não se notar que estás a tremer, cheia de medo. O coração acelerado sem o conseguires controlar. Arrastas um dos pés mais um pouco para a frente. Nem forças tens para o levantares e dares o passo que te leva em frente, para o desconhecido. Pensas para ti. E ficas ainda com mais medo. Sentes a corda de volta da tua cintura. Ela vai-te suportar na queda. Disseram-te. Será mesmo? Pensas para ti. Arrastas agora o outro pé. Inclinas o tronco e a cabeça um bocado para a frente. Espreitas para baixo. Tal e qual uma criança assustada quando espreita para baixo da sua cama antes de dormir, para verificar que o monstro não está lá. Tu também queres que não estejam monstros lá em baixo. Desejas ter coragem para dar o salto. E que a queda corra bem. E que, quando, finalmente, lá em baixo, estejas bem, estejas inteira, que ele esteja inteiro. Mas depois assustas-te, cais em ti mesma e pensas o quão louco isto parece. Não consigo. Pensas para ti. E quando mais pensas no medo que tens de não saberes o que vem a seguir, pior ficas. Olhas em teu redor. Uns já saltaram, outros estão a saltar. Como conseguem? Pensas para ti. Tanto medo que sentes do que vem a seguir. De não saberes exactamente o que vem a seguir. Queres que corra tudo bem. Repetes para ti. Mas sabes que nem sempre as coisas correm bem. Pode doer. Tu não queres magoar-te. E tens medo que isso aconteça. Medo de ganhares coragem para dar o salto e que depois a queda seja horrível e chegas lá abaixo “desinteira”, que algo de ti se parta. Tens medo disso. É esse medo que te prende para trás. Que te puxa para ficares em terra. Que te retira as forças para dares o primeiro passo. De dares o salto para o desconhecido, sem nenhuma certeza, sem nada tomado como garantido. Mas tu tens que decidir. Tens de escolher. Ficares agarrada a esse medo. Ou encarares isso e dares o salto. E veres o que acontece. Pode ser uma queda agradável, que as coisas corram bem na viagem e chegas ao fim desta inteira e feliz, com uma sensação tão agradável que te enche o peito e sentes-te tão bem que nem consegues explicar, apenas sorrires por teres tido a coragem.
Precisas que as tuas mãos trémulas agarrem a pontinha de coragem que por vezes parece espreitar. Mesmo que tenhas as mãos suadas e o coração a bater de mais. Tens de deixar o medo para trás. Dar o salto. Porque pode ser um desastre total. Sim. Mas pode ser incrível.