estória §91


Ela estava tão nervosa como da primeira vez que se encontrara com ele, naquela noite fria de Dezembro do ano passado. Já fora há tanto tempo, mas ela recordava-se do momento de nervosismo por ir passear só com ele. Agora aqui estava ela, deitada no sofá a ver televisão. Todavia a sua atenção não estava no filme banal que passava na tv sobre 4 amigos. O coração batia a mais de 100 à hora, o peito estava apertado e ela pensava que estava mais nervosa que nessa noite em que foi passear com ele. O pensamento dela vagueava entre o passado e as suas expectativas sobre o futuro. Ela queria tanto falar com ele e esclarecer as coisas e, ao mesmo tempo e neste exacto momento, não sabia se o queria mesmo. Estava tão nervosa que o medo começa a espreitar e a sua determinação em esclarecer as coisas estava-se a desmoronar. Perguntas e perguntas invadiam-lhe a cabeça. Será que ainda tinha alguma lógica ela ir falar disso? Será que era mesmo o que ela queria fazer? Será que devia desistir e seguir em frente sem olhar para trás? E se ela não conseguisse falar disso? E se fosse isto uma estupidez e os outros tivessem razão? E se ele dissesse o que ela desejaria ouvir? Estava a ficar atormentada e cada vez mais nervosa e ansiosa pela hipótese de se ir encontrar com ele ao fim deste tempo todo e depois de múltiplas tentativas sem sucesso. Sentou-se no sofá e pensou que não podia ser assim. Que ela dissera sempre que daria tudo para poder falar com ele e esclarecer isto. E que tinha que ter a coragem para o fazer agora que essa oportunidade estava a bater à porta. Não podia acanhar-se e ficar com medo. Isso era o que ele andara a fazer durante estes meses. A evitar encontrar-se com ela, a evitar responder às mensagens, às perguntas sobre isto e a todas as hipóteses que ela lhe dissera haver entre eles e às quais ele não respondeu nem sim nem sopas. Ele era aquele que não demonstrara coragem nem vontade. Ela era aquela que queria esclarecer tudo e, que no fundo, tinha uma esperança ínfima que as coisas pudessem acabar bem. Contra todos os factos que tivera ao longo destes meses, ela ainda tinha essa esperança. Ela dizia que precisa de ouvir da boca dele o que pensava para que pudesse seguir o seu caminho. Todos lhe diziam que não devia de insistir mais nisto, pois ele já tinha demonstrado o que queria, ou melhor, o que não queria, e que isto só a iria magoar mais. Mas a sua teimosia e a esperança que existia ainda no seu pequeno coração, faziam-na avançar com toda esta história. Ela tinha de conseguir e tinha que mostrar aos outros que sim, ela poderia sair muito mais magoada, mas que aquilo lhe iria fazer bem, no final, para poder continuar o seu caminho. Era por ela que ela queria fazer isto. No fundo, ela desejava tanto ter alguém ao lado dela, alguém que lhe desse atenção, miminhos e abraços e a quem ela pudesse dar isso também. Ela precisava disso, pensava que de outra maneira seria tão difícil caminhar daqui para a frente. E com esta atitude ela estava a ser egoísta e a não dar o merecido valor àqueles que ela tinha à sua volta, que sempre estavam lá para ela e que lhe davam todo o apoio, independentemente se concordavam ou não, como neste caso. No fundo, ela tinha noção disto, mas ela estava com tantas certezas que não conseguia seguir o seu caminho se não insistisse neste encontro. Tinha mesmo que acontecer e ela tinha que ter coragem e não sofrer por antecipação. As coisas iam ficar esclarecidas, fosse como fosse.

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