estória §5


"Vai... Para sonhar o que poucos ousaram sonhar. Para realizar aquilo que já te disseram que não podia ser feito. Para alcançar a estrela inalcançável.
(...) Para tocar o intocável. Para haver em ti um sorriso que a morte não te possa arrancar. Para encontrar a luz de cuja existência sempre suspeitaste.
Para alcançar a estrela inalcançável.
Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida." 
*Paulo Geraldo

Vai e não olhes para trás. Não penses duas vezes. Porque às vezes isso faz mal. Pega em todas as tuas forças. Aquelas que sabes que tens e as outras que julgas não ter. Mas que existem dentro de ti. E quando menos esperas vêm. Pega nelas e não penses muito e vai. Vai para alcançar a estrela inalcançável. Essa é a tua tarefa. Alcançar essa estrela. Sem quereres saber quão longe ela se encontra. Porque quando gostamos e queremos muito tudo se torna perto. Sem quereres saber de quanta esperança necessitarás. Porque acabas sempre por ter a suficiente para fazer o que queres fazer. Sem quereres saber se poderás ser maior do que o teu medo. Porque sim. Tem-se sempre medo. Quando não sabemos se iremos conseguir. Se iremos fracassar. Se teremos força para prosseguir ate ao fim. Mas se não corrermos esse risco. Se não nos desafiamos a nós próprios. Para quê a vida? A vida foi feita para isso. Ir e ser maior que o nosso medo. Longe ou perto. Com muita ou pouca esperança. Mas vai.. Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida.
Essa é a tua tarefa. Alcançar essa estrela.

estória §4

"Foi então que uma frase, um pensamento que lhe soou familiar, lhe assaltou o espírito: E se eu seguisse em frente agora? E se eu seguisse em frente agora? E se eu seguisse em frente agora? …" 
*Tiago Rebelo
Sim, e se eu seguisse em frente? Neste momento. Passou-me isto pela cabeça. Mas não sei se o faça. Às vezes temos dificuldade em seguir em frente. Temos medo do que estará em frente. Sabemos tão bem o caminho para trás. Como tudo se passou até aquele momento. Que temos receio do que virá. O que virá se formos em frente? E se eu seguisse em frente agora? Frase familiar ou não. Que lhe assaltou o espírito. E se eu seguisse em frente agora? Se não seguir vou ficar a remoer o pensamento. Vou ficar a imaginar o que poderia ter acontecido se eu o tivesse feito. Se eu tivesse seguido em frente. Ninguém sabe o que estará em frente. Mas a verdade é que temos que ir frente. Em quase todas as situações. Se não iremo-nos lamentar. Culpar. Por não sabermos o que ia acontecer se seguíssemos em frente.
Se não seguir vou ficar a remoer o pensamento.

estória §3


"Por isso respiro fundo do outro lado da tua imagem e espero - sentada no baloiço, lá mesmo em cima, para que não me vejas - que um dia dês um salto para o outro lado da tua vida. E sejas quem sempre sonhaste, para que te vejas ao espelho como eu já te vejo. Como tu és.”
*Margarida Rebelo Pinto

Há alguém que nos vê como nós realmente somos. Que sabe todas as nossas qualidades. Todos os nossos defeitos. Caprichos. Coisas preferidas. O que nos irrita. Parece que olha para nós com outros olhos. Como se estivesse a ver-nos de um plano diferente do nosso. Como se estivesse sentada no baloiço. Lá mesmo em cima. Para que não o vejamos. E para que possa ver como somos. À espera que um dia possamos atingir o que realmente somos. Consigamos passar para o outro lado da vida. Para que sejamos finalmente quem sempre fomos aos seus olhos. Mas que nem sempre conseguimos ser. Assim sim. Podemos afirmar que somos verdadeiros. Únicos. Somos o que temos de melhor e de pior. Somos as nossas manias e desejos. Somos verdadeiros aos nossos olhos e aos olhos de quem nos olha. Sentada no baloiço. Lá mesmo em cima. Para que não o vejamos.
À espera que nos vejamos como sempre sonhámos.
Como nos vê.

estória §2


"Deixem as crianças pintarem as paredes!" 
*

Deixem-nas fazer o que lhes apetecer. Deixem-nas sujar no jardim. Deixem-nas correr livremente na planície. Deixem-nas pintar e riscar a parede do quarto e da sala. Façam-lhe festas todos os dias. E aqueles biscoitos que tanto gostam. Tirem fotografias de todos os momentos. Mas mais importante. Aproveitem todos os momentos. Façam o que vos apetecer. Pintar a casa com uma parede cada cor. Porque não? Passar o dia a ver aquele filme que tanto se gosta e deixar a casa numa bagunça. Porque não? Sair de manhã e entrar já de noite e ter um dia inesquecível. Porque não? Rir de tudo e mais alguma coisa. Porque não? Ficar deitada na relva a conversar com quem quer que seja. Porque não? Permanecer no silêncio e no fim saber que se disse tudo. Porque não? Façam tudo o que quiserem fazer. Sem medos de se dizer aquilo ou outra coisa. Sem medos que não deviam estar a fazer isto mas antes aquilo porque pensam ser mais importante. Mas na verdade não o é. Façam tudo o que vos vem neste instante a cabeça. Aquilo que estava escondido no lado esquerdo do peito. Bem lá no fundo. E que veio ao de cima. Porque viram uma imagem. Falaram com essa pessoa. Ouviram a tal música. Escutaram o silêncio. Façam tudo mesmo que aparentemente não tenha razão. Seja descabido. Seja parvo. Seja inútil. Mas que seja o que querem. O que vos apetecia. O que vos faça sorrir. O que vos traga uma sensação de bem estar e de alegria que nem sabem como explicar. Guardem isso tudo que vos apetecer fazer. Dizer. Olhar. Escutar. Aproveitem tudo e todos. Aproveitem porque nunca se sabe quando o poderão fazer outra vez. Aproveitem para não se arrependerem depois. Apenas aproveitem o momento.
Façam o que vos apetecer.

estória §1


"A vida é uma incógnita, hoje estás aqui, amanhã podes ficar doente, ou cair-te um piano em cima quando fores a andar na rua. Ainda há pessoas que atiram pianos pela janela, sabias? Nunca se sabe como será o dia de amanhã, por isso não percas tempo, pega no telefone e liga-lhe." 
*Margarida Rebelo Pinto

Liga-lhe. Diz o que queres dizer ou aquilo que surgir na altura. Liga-lhe somente para ouvir a sua voz. Só para dizeres que estás aqui ao seu lado. Que não estás doente e que não te caiu nenhum piano em cima. Liga-lhe e ficará bem. Descansará por saber que te lembraste e que estás bem. Que por momentos quiseste um momento consigo. Mesmo pelo telefone. Que sentiste necessidade de lhe falar. Quem sabe lá no fundo tinhas mesmo algo para lhe dizer. Algo importante que a tua cabeça não conhecia. Mas sim o teu coração. Nunca se sabe o dia de amanha. Por isso não percas tempo. Pega no telefone e liga-lhe.
Nem que seja só para ouvir a sua voz.

Era uma vez ...

Reza a História, bem velhinha, que havia uma Carochinha, que por ser engraçadinha, teimou que haveria de casar.
Certo dia, quando estava a varrer a cozinha, encontrou uma moeda de 5 réis e correu à vizinha que já não tinha de esperar.
Vaidosa como era, escolheu o seu melhor vestido e foi pôr-se à janela para ver se arranjava marido.
Pensou como deveria começar e decidiu cantar:
- Quem quer casar com a Carochinha, que é formosa e bonitinha?
- Muuu.. Muuu.. Quero eu, quero eu! - mugiu o Boi mostrando-se muito interessado - Se casares comigo, vais andaro dia inteiro no prado..!
- Que voz é essa? Com essa voz, acordavas-me a mim e aos meninos de noite! Contigo é que não quero casar! E, além disso, tenho pressa..
Como era o primeiro pretendente, a Carochinha não ficou desanimada e continuou a perguntar, desta vez com uma voz mais alegre e um aperto no coração:
- Quem quer casar com a Carochinha, que é formosa e bonitinha?
Mal tinha acabado de dizer a última palavra, apareceu o Cão que ladrava e gania de animação:
- Ão ão.. Quero eu, quero eu! Se casares comigo, tens uma casota toda janota e comida saborosa que me dá a D.Rosa..!
- Ai pobre de mim! Que alarido! - queixou-se a Carochinha dando um suspiro - Com essa voz, acordavas-me a mim e aos meninos de noite! Não, não me serves para marido!
Ficou a ver o Cão a afastar-se com as orelhas baixas e o rabo entre as pernas, e voltou a tentar a sua sorte:
- Quem quer casar com a Carochinha, que é formosa e bonitinha?
Muito gorducho e envergonhado, aproximou-se o Porco com o rabo que mais parecia um saca-rolhas e o focinho molhado:
- Oinc! Oinc! Quero eu, quero eu! Sou muito comilão mas também dizem que sou bonacheirão!
- És muito simpático e pareces divertido. Mas com essa voz, acordavas-me a mim e aos meninos de noite! Também não caso contigo!
Depois encheu o peito de ar, sorriu e voltou a perguntar:
- Quem quer casar com a Carochina que é formosa e bonitinha?
Com o peito inchado, penas coloridas e luzidias, candidatou-se o Galo que resolveu cantar para impressionar:
- Cocorococó.. Cocorococó! Quero eu, quero eu! Se casares comigo, vais madrugar!
- Galo garnisé, com tanto banzé acordavas-me a mim e aos meninos de noiite! E, sem dormir, iamos passar o tempo a refilar..
A Carochinha queria mesmo casar, por isso tinha que continuar:
- Quem quer casar com a Carochinha, que é formosa e bonitinha?
Com um miar meigo e a cauda bem levantada, aproximou-se o Gato janota a ronronar:
- Miau.. renhaunhau.. Quero eu, quero eu! Se gostas de leite, peixe fresquinho e de apanhar banhos de sol nos telhados, então podemos casar!
- Banhos de sol talvez.. Mas leite? Peixe fresquinho? E, com essa voz, acordavas-me a mim e aos meninos de noite! Não, não é contigo que vou subir ao altar!
Seria possível? Seria assim tão difícil encontrar alguém que não fosse barulhento? Mas foi então que reparou em alguém que se aproximava a passo lento.
- Oin, in, oin.. Quero eu, quero eu! - zurrou o Burro - Olha, se casares comigo, não vais dormir ao relento.
- Mas com essa voz, acordavas-me a mim e aos meninos de noite! A minha vida ia ser um verdadeiro tornento!
Como já era tarde. a Carochinha pensou que seria melhor ir tratar do jantar, mas foi então que ouviu chiar..
- Hi, hi! E a mim, não vais perguntar se quero casar?
Com um sorriso de felicidade por encontrar alguém tão simpático e com uma voz tão fininha, a Carochinha correu para o pátio:
- Como te chamas?
- Sou o João Ratão. Queres casar comigo ou não?
A Carochinha convidou-o a entrar, pois tinham muito para conversar e uma data de casamento para marcar.
Ora, o João Ratão e a Carochinha lá casaram e foram feliz até que um dia aconteceu uma desgraça.
Um Domingo, a Carochinha foi à missa e o João Ratão não quis ir e ficou a cuidar da comida:
- Não vás mexer no caldeirão! - disse-lhe a Carochinha.
Mas o João Ratão como era muito guloso foi logo espreitar lá para dentro. Truz, catrapuz, lá caiu o João Ratão para dentro do caldeirão!
Veio a Carochinha e não o achou, procurou, procurou, correu a casa toda e nada. Pensou em ir comer sozinha. Quando foi tirar a comida do caldeirão apanhou um gande susto porque viu lá dentro o seu querido marido! Começou a dizer e a chorar:
- Ai o meu maido, o meu rico João Ratão, cozido e assado no caldeirão!
E assim acaba a história da linda Carochinha, que ficou sem o João Ratão, pois era guloso e caiu no caldeirão!