estória §99


“The less you care, the happier you will be…”

Por mais que já tenhas pensado em algo que poderia acontecer, que tenhas aperfeiçoado esse momento vezes e vezes sem conta, imaginado todos os pormenores e acrescentando todos os detalhes essenciais para ficares feliz e afirmares ‘Era mesmo isto que eu queria!’, a vida tem uma capacidade imensa de te surpreender. A vida não te dá exactamente o que querias, o que tinhas imaginado. A vida dá-te momentos pelos quais não esperavas. Para o melhor e para o pior. A vida dá-te momentos que serão importantes para ti, mesmo que no momento em que eles acontecem tu não te dês conta de tal importância, mesmo que não os percebas. Mas depois, ao olhares para trás, ao recordá-los, dás-te conta que não esperavas tal coisa, que por mais que tenhas uma imaginação fértil, isso não te tinha passado na cabeça e dás-te conta depois que precisavas mesmo disso e, no fundo, era o que querias mesmo sem saber. Há coisas assim, que te deixam sem palavras, sem entenderes o porquê disso, sem fazeres a mínima ideia do que sentes e do que é aquilo ao certo. No fundo, sabes apenas que era isso que precisavas para avançares em frente. Que aquilo foi o modo de a vida de dar um empurrãozinho à tua própria vida. 

estória §98


Cada pessoa tem na vida o que merece. Esquecendo o sentido negativo associado a esta frase, acredito que cada pessoa tem o que merece, o que necessita de verdade para ser feliz. E existem muitos modos de uma pessoa ser feliz. Se por um lado acredito que somos nós que fazemos o nosso próprio caminho, também acredito, por outro lado, que há coisas que já estão destinadas a acontecer-nos. Existem vários ‘pacotes’ de felicidade, tantos quanto a imaginação permita, porque o que pode ser o auge de felicidade para mim, pode não o ser para outra pessoa. Por isso, há que haver diversidade, para agradar a gregos e a troianos. Esses ‘pacotes’ são a parte destinada a acontecer na vida de cada um. E tudo o resto depende de cada pessoa. O caminho que cada um de nós escolhe depende dele. Apenas dele próprio, das escolhas que faz, do que permite ficar ou não na sua vida. Acho que se pode dizer que temos sorte quando escolhemos o caminho que está no ‘pacote’ que nos foi destinado, atingindo a nossa felicidade. Nem sempre percebemos à primeira qual é o nosso ‘pacote’. E por vezes, isso torna-se bastante difícil. E ficamos fartos por a vida nos correr mal. Ao fim ao cabo, foram as nossas escolhas que nos puseram na situação em que estamos. Outras vezes, desejamos tanto outro ‘pacote’, outro ‘final feliz’ para nós, que ficamos cegos e torna-se difícil ver qual é mesmo o nosso ‘final feliz’. Todas as pessoas querem um. Todas querem um ‘final feliz’. E por isso é que por vezes ficamos com inveja dos ‘finais felizes’ das outras pessoas que estão ao nosso redor. Porque nós só queremos um também. Apenas isso. Mas precisamos de nos afastar disso. Situarmo-nos num plano superior e pensar que há outros modos de ser feliz. Pensar que existem milhares de ‘pacotes’ e que talvez é hora de nos desviarmos do caminho que tomámos como garantido. Arranjar coragem e escolher outro. Começar do zero. Porque pode ser esse caminho desconhecido a nossa sorte.

estória §97


Ela não quer o que as outras pessoas têm. Não quer isso exactamente. Ela quer algo do mesmo género do que as outras pessoas têm. É isso. Ela quer isso com todas as suas forças. Mas neste momento ela pensa que o mundo conspira contra ela. Ela acha que isso que quer nunca irá acontecer realmente, a não ser em sonhos. E é disso que ela tem inveja. É por causa disso que ela se corrói a maioria do tempo. Ela deseja tanto isso. Mas as outras pessoas disseram-lhe para largar. E ela ficou frustrada com elas. E agora sente isto que nunca sentiu na sua vida; este sentimento de querer ter o mesmo que elas sem o querer exactamente. E ela pensa porque é que as outras pessoas podem ter e ela não. Porque é que tem que largar aquilo que ela mais deseja. Porque é que as coisas não são como quando ela sonha acordada. Ela pensa que o mundo conspira contra ela. E sente o que nunca sentiu antes. E detesta-se por isso.