estória§167

Quero falar contigo. Quero falar mais contigo. Ou melhor, quero que tu fales mais comigo. E depois quero estar contigo. Quero que me convides para algo. Um café. Um passeio. Um cinema. Algo. Tanto faz. Desde que vá estar contigo. É capaz de tudo isto ser um erro. Não existem segundas oportunidades. Existem? Gostava que me provassem isso. Que me provasses isso. Mas provavelmente isto é tudo um erro. É. Não se devia de remexer em coisas do passado. Se já foram deixadas pelo caminho, é suposto não fazerem parte do nosso presente. Mas fui-te buscar sem dar conta. Só para ver como estavas. E depois fui deixando ficar-te. E agora ou deixo-te novamente pelo caminho ou continuo a deixar-te ficar. Mas isto de te deixar ficar, faz-me andar ansiosa. Sempre à espera que algo [que não vai acontecer] aconteça. E espero. E volto a esperar. E nada. E sempre que falamos nada mais é do que isso mesmo. Falar. Conversas curtas. Muitas delas nem um fim decente têm. Ficam pelo caminho simplesmente. Será isso algum sinal? Não sei. Ou não quero saber. Independentemente disso fico feliz. Se bem que depois ansiosa e frustrada. Outras vezes, acabo mesmo zangada e chateada. Sem que tu saibas disso. Mas feliz. Feliz de cada vez que respondes. E quero mais. Com o passar do tempo, vou querendo cada vez mais. Apesar de não ter, de não conseguir isso. E depois só me passa uma coisa pela cabeça: dizer-te isso mesmo. Dizer-te que [te] quero mais. Dizer e ficar à espera para ver o que dizes. Se falas. Ou se foges. Não fujas.

E isto é o que tu me dizes. Sem teres coragem de o dizeres a quem queres de verdade.

estória§166

Somos mais felizes quando não sabemos. A ignorância, por vezes, pode ser a felicidade. A serenidade. A paz. Quem não sabe de algo, quem não sabe como pode ser algo, quem não sabe o que se sente quando algo acontece… Quem não sabe isso vive em paz. Há situações assim. Há situações que nos deixam com medo. Atormentados. Com nervos. Sobressaltados. Com o coração apertado. Deixamos de ter paz. Ao princípio é a toda a hora. À medida que o tempo passa, só sentimos isso em situações parecidas. Depois, depois de algum tempo, aprendemos a recalcar esse medo. E este só reaparece em alguma situação extrema. Mas nunca seremos os mesmos depois de passar por essas situações. Deixam marca. E eramos mais felizes quando não sabíamos o que isso era. Quando isso eram apenas palavras, hipóteses, estávamos em sossego. Não tínhamos sentido na pele tal coisa e não tínhamos em memória o medo, o sobressalto, o tormento. Sim. Por vezes, é-se mais feliz na ignorância.