estória §74


Tudo acontece por uma razão. É nisto que eu acredito. Acredito mesmo. Todos nós temos a nossa teoria acerca da vida, das coisas. A minha é esta. Sim, nós podemos construir o nosso futuro, fazer o nosso destino. Mas sinto que algo já está que meio destinado. Acontece-te a situação “X” porque tinha que te acontecer. Havia uma razão para isso. Não foi assim, sem mais nem menos. Tinha que ser. E por mais voltas que desses não irias escapar a isso. É nisto que acredito. És tu que escolhes onde queres estar, com quem queres estar, o que queres fazer ou evitar. Sim, tu tens esse poder. Tu escolhes. Mas no meio dessas coisas existem outras coisas que tu não controlas. Quem controla? Afinal não fazes tu o teu próprio destino? Acho que nestas coisas, o destino também manda um bocadinho. Mesmo sem tu dares conta ou quereres acreditar nisso. Há coisas que simplesmente têm que acontecer. E não estou a falar nas coisas óbvias, como o morrer, fazer anos. Isso são certezas. Não são coisas que simplesmente têm que acontecer. Estas, tu não sabes bem o que são. Não tens poder sobre elas. Não podes escolher se as queres ou não. Elas acontecem. E mesmo que no momento não consigas perceber a sua razão, o seu porquê... Espera, não te vou dizer que um dia vais perceber a razão de todas essas coisas que simplesmente têm que acontecer. Mas vais perceber algumas. E vais perceber que, sim, não podes escolher entre elas acontecerem ou não, mas vais ter a possibilidade de escolher o modo como as vais viver, o modo como elas vão afectar a tua vida e a ti. Podes escolher o depois que vem depois de essas coisas acontecerem. Esse poder já está nas tuas mãos. Por isso eu acredito que as coisas acontecem por alguma razão. Para te pôr à prova. Para sentires-te capaz. Para aprenderes algo. Para sobreviveres e teres algo para contar. Para o que quer que seja. Por qualquer razão. Por alguma coisa, essas coisas existem e acontecem na tua vida sem tu seres capaz de controlar o seu aparecimento ou não.
Sim, tu constróis o teu futuro. Caminhas por onde queres. Segues a estrada que queres. Escolhes as pessoas que queres que permaneçam ao teu lado. Levas contigo a bagagem que mais te faz falta. Sim. Tu tens esse poder. Mas há coisas que encontras no caminho e com as quais não esperavas deparar-te. Nestas alturas, é o destino a dar-te uma mãozinha. Porquê? Não sei. Só sei que as coisas acontecem por alguma razão.



estória §73


O Natal está aí. Aí mesmo à nossa porta. Veio quando as luzes da cidade se mostraram. E depois, veio o cheiro a castanhas assadas, o frio. É isto que me faz lembrar o Natal. Parece que existe uma alegria e magia no ar. Um céu diferente. Um cheiro diferente. Um brilho diferente. A cidade fica diferente até ao fim do ano. Por uns dias apenas fica diferente e especial. Sim, daqui a uns dias já é para o ano. Como o tempo passa. Ainda está tão presente na minha mente os últimos momentos do ano passado. E agora juntam-se tantos mas tantos momentos deste ano. Parece um turbilhão de ideias. Quanta coisa boa aconteceu este ano. Quanta coisa menos boa também aconteceu. Sentes o mesmo? Sentes-te invadido por uma certa nostalgia. Deixas-te embalar por esses momentos que te vão surgindo no pensamento. No coração. Fecha os olhos. Não com força. Fecha-os só levemente. Mergulha neste ano. Sim, vês esse momento… Um sorriso na cara, aposto. Olha outro… Mas talvez uma lágrima a querer romper. E agora… Uma gargalhada. Ou um ar mais pensativo. E depois reparas que percebes melhor certas coisas. Agora olhando com atenção, depois de saberes o que já se passou depois disso, percebes melhor. E isso deixa-te aliviado, não? O tempo ajuda em tudo. No bom e no menos bom. Ainda bem. Abres os olhos. Voltaste ao presente. Foi um ano em cheio. Amigos. Sorrisos. Amores. Desamores. Abraços. Lágrimas. Trabalho. Saídas. Festas. Jantares. Férias. Dias bem passados. Dias mais em baixo. Há de tudo em todos os anos. Foi melhor, ou foi pior? Isso fica para ti. Só espero que 2011 seja igual a este, no mínimo. Mas o que espero mesmo é que tu possas ser mais feliz. É que eu possa ser mais feliz. Que tu tenhas tantos e tantos bons momentos. Que eu tenha tantos e tantos bons momentos. Que rias muito, que abraces muito, que beijes muito. Que tenhas muitas oportunidades de vingares, de te realizares, de arriscares. Que tenhas coragem para enfrentares todos os desafios. Que tenhas muito amor para dar a esses que fazem parte da tua vida. Que estejas sempre rodeado daqueles que mais gastas. E caso contrário, se estiveres sozinho, lembra-te que não estás verdadeiramente só. Está sempre lá alguém para ti, mesmo que não pareça. Por isso, sorriso na cara.

Beijos *
Boa Natal e Feliz 2011

E como alguém disse (António Feio):
“Não deixem nada por fazer, nem nada por dizer”.
Aproveitem ao máximo o que resta de 2010. Sejam felizes e façam felizes os que mais adoram.

Cativa-me


Foi então que apareceu a raposa.
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu delicadamente o principezinho, que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui, disse a voz, sob a macieira.
- Quem és tu? perguntou o principezinho. És bem linda...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, disse o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Mas, depois de ter reflectido, acrescentou:
- O que quer dizer «cativar»?
- Tu não és daqui, disse a raposa, o que é que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer «cativar»?
- Os homens, disse a raposa, têm espingardas e caçam. É bem incomodo! Também criam galinhas. É a única coisa interessante que fazem. Estás à procura de galinhas?
- Não, disse o principezinho, procuro amigos. O que é que quer dizer «cativar»?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa «criar laços...».
- Criar laços?
- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim não passas ainda de um rapazinho muito parecido com cem mil rapazinhos. E não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Para ti sou apenas uma raposa semelhante a cem mil raposas. Mas, se me cativares, teremos necessidade um do outro. Para mim serás único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Há uma flor... creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se de tudo sobre a Terra...
(...)
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Gostava de o fazer, respondeu o principezinho, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e muitas coisas para conhecer.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. (...) Se queres ter um amigo, cativa-me!
- O que é que é preciso fazer? disse o principezinho.
- É necessário ser paciente, respondeu a raposa. Sentas-te primeiro um pouco longe de mim, assim, na erva. Eu olhar-te-ei pelo canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é a fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, poderás sentar-te um pouco mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Era preferível teres voltado à mesma hora, disse a raposa. Se vieres, por exemplo às quatro da tarde, a partir das três começarei a sentir-me feliz. Quanto mais a hora avançar, mais me sentirei feliz. Chegadas as quatro horas já estaria agitada e inquieta; descobriria o preço da felicidade! Mas se vieres a qualquer hora, ficarei sem saber a que horas hei-de vestir o meu coração... Os rituais são necessários.

*Antoine de Saint-Exupéry

estória §72


Imagina: Perdes a cabeça. Sim! Isso. Perdes a cabeça. Simplesmente. Já o fizeste alguma fez? Já sentiste o que isso provoca em ti? Já? Não…? Estás à espera de do quê? É verdade, não existem muitas coisas perfeitas. Não existe uma pessoa perfeita. Um emprego prefeito. Uma vida perfeita. Não há. Simplesmente. Mas existem momentos perfeitos. Sim. Uns segundos, minutos, o que seja, em que tudo é perfeito. E sabes como podes “obter” esses momentos? Bem, perdes a cabeça! Nem mais. Fazer uma loucura pode enlouquecer-nos. Mas também deixar-nos muito felizes. E aí… Aí “obtens” um momento perfeito. Parece-te bem? Tenta. Experimenta. Pode parecer difícil. Que não tens coragem para tal. Mas, por favor, perde a cabeça. Vai valer a pena. Porque vale sempre a pena “obter” um momento perfeito. Já que o “perfeito” é algo tão escasso. Deixa que Tu possas experimentar isso. Teres em Ti essa sensação de seres apenas tu e tudo em ti. Que não há mais nada no mundo. A sensação que parece que todo o universo conspirou isso a favor de ti. Vais ver como isso é tão bom. Que vale a pena perderes a cabeça. Porque não existe a pessoa perfeita, o emprego perfeito, a vida perfeita. Mas existe momentos perfeitos.

Lembra-te:

"Fazer uma loucura pode enlouquecer-nos mas também deixar-nos muito felizes"
* Holiday in Handcuffs