estória §82


Fiquei com saudades vossas. Saudades do grupo. Saudades dos encontros. Saudades de estarmos juntos uns quantos dias em tantos lugares diferentes que já tivemos. Refilávamos de algumas coisas.. Ter de levantar cedo. Termos de fazer isto e aquilo. Não podermos falar. Termos que escrever sobre algo. Reflectir. Mas sabia tão bem ao mesmo tempo. Sabia bem estarmos juntos. Fazia-me bem. Eu já sabia. Mas agora, que não há "isso", é que me apercebo realmente o bem que isso me fazia. Era feliz. Uma criança feliz. Lembram-se? Crianças felizes. Nós. E com isto tantas histórias. A cantar a porta das casas-de-banho. As broas. O doce de morango. Andarmos na bagageira do carro. As festas nos quartos sem ninguém saber. As "SS e as Bandoletes". Os "nossos" nomes. E mais uma data de coisas. Que saudades! E todas as músicas. O que eu mais quero é ver-te cair.. Estou apaixonada!.. O caminho está dentro de ti.. A estrela polar és tu.. És o tesouro, és o sorriso infinito.. E tantas, tantas outras. Hoje fiquei mesmo com saudades*

Saudades é o que resume tudo isto, todas vocês.

estória §81


"Each second we live is a new and unique moment of the universe, a moment that will never be again. Do you know what you are? You are marvel. You are unique. In all the years that have passed there has never been another child like you. Your legs, your arms, your clever fingers, the way you move. You may become a Shakespeare, a Michelangelo, a Beethoven. You have the capacity for anything. Yes, you are marvel."
*Pablo Picasso

O ser humano quer ser sempre algo. É esse um dos seus grandes objectivos na vida. Se não o maior objectivo dele. Nosso. Não queremos ser “um qualquer”. Queremos ser nós. Queremos saber quem somos. Queremos que os outros saibam quem somos. E tudo isto logo desde pequeninos. ‘E o que queres ser quando fores grande?’, pergunta(ra)m-nos tantas e tantas vezes. Às vezes não sabíamos o que queríamos. Ou então, queríamos muitas coisas. E enquanto crescíamos fomos mudando quem queríamos ser. Se calhar, olhando agora para trás, não somos isso que queríamos. Mas garantimos a nós mesmos que somo alguém. Somos sempre alguém a partir do momento em que fomos concebidos. Mas não é nesse sentido que o ser humano pensa quando se refere a este assunto de tamanha importância na vida dele. É ser alguém que tenha algo, que tenha conseguido alcançar algo, que tenha vingado. E, principalmente, que isso seja visível aos olhos dos outros que o rodeiam. Isto é ser alguém, segundo o comum dos mortais. É importante para ele pensar que sim, que é alguém reconhecido pelos outros. Muitas vezes esta imagem de algum poder que queremos mostrar aos outros que temos chega a ser mais importante do que na verdade somos mesmo, de admitir isso para nós próprios. O que somos? O que somos mesmo? Lá o fundo? Qual a “essência”? Qual a tua “essência”? Será que somos “grandes”, ou melhor “crescidos”, o suficiente para olhar para nós próprios, para o “nosso umbigo” e admitirmos o que somos na realidade? De ver que afinal somos o que queríamos quando éramos pequeninos. De ver que somos algo parecido ou tão diferente do que queríamos ser. E de reparar que independentemente disso somos nós. Um ser humano igual a tantos outros. Mas com algo especial. Com uma maneira diferente de olhar o mundo. Com desejos e sonhos por concretizar. Com metas a atingir. Com todos os defeitos e feitios. Gostos e desgostos. Que já passou por muitos obstáculos e os venceu. Que já percorreu um grande caminho. Que já conheceu muitas pessoas. Que tudo isto faz a sua bagagem. E que tudo isto o faz ser quem é agora. Isto é a essência do ser humano. E quando ele vir isso, os outros também o vão ver. Sem ele ter que fazer “por mostrar” aos outros quem é, ou quem quer que os outros vejam que ele é.


estória §80


Porque nada é perfeito. Nada nem ninguém. Porque nós próprios não somos perfeitos nem podemos pensar que o somos nem exigir ou pensar que os outros o sejam. Eu não quero que ninguém seja perfeito. Mas posso pedir que sejam mais compreensíveis, que não comecem logo a “disparatar” sem mais nem menos. Será que não dão conta que o fazem?