estória §52


dreams keep me alive

Não ando nem desando. Parece que estou parada. Não sei que fazer. Que dizer. Simplesmente todo o meu eu parou. A minha cabeça anda às voltas. Contudo não saio daqui. Não deixa este assunto ir embora. Fiquei presa a ele. Aquele momento. E agora parece que não sou capaz de viver sem pensar nisso. Sem lembrar isso. Como se pode ficar tão preso a algo? Queria andar comigo e com a minha vida para a frente. Deixar para trás o que não interessa. Porque sim. Isto não interessa mais. Apenas foi algo que aconteceu e que guardo lembrança. Mas mais nada. Pelo andar da carruagem, mais nada. E porque não consigo eu fazer isto? Seguir para a frente é que é o caminho. Eu sei que sim. Mas ao mesmo tempo tenho os pés presos a este chão. E a cabeça sempre a matutar no mesmo. Quero que isto vá de vez. Só quero a lembrança. Nada mais. Por favor. Preciso de deixar isto aqui e voltar para o meu caminho. Preciso de outros sonhos para me manter viva e a caminhar.
Este só me faz ficar parada.       

estória §51


Na vida, o mais importante são somente os momentos, no verdadeiro sentido da palavra. Tudo "o depois" não interessa (não devo atribuir significado). Cada vez acredito mais nisso. E, se por um lado, acho que é mau, por outro, acho que nem é assim tão mau. Porque se deve aproveitar os momentos e dar-lhes significado. Um momento é um breve período de tempo, um instante, um tempo ou ocasião em que alguma coisa se faz ou acontece. É no momento que temos e devemos estar. Dure ele segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses ou anos. Porque um momento pode durar muito tempo. O tempo que acharmos que esse momento tem, precisa. O tempo que lhe quisermos dar. E nesse espaço de tempo temos que estar lá a 100%. Cabeça, tronco e membros. Coração e alma. Tudo de nós ali. Naquele tempo. Só isso importa. Porque depois disso acontece alguma coisa que interrompe esse momento e deixamos de o ter, acaba. Por isso, a nossa vida não é só um momento, mas vários, muitos. E, digo mais uma vez, é isso que temos que guardar, que temos que dar significado. O depois não interessa. As interrupções entre esses momentos não são importantes. Se fosse faziam parte do momento. Cada vez acredito mais nisto. E cada vez tenho mais provas disto. Cada vez tenho mais momentos na minha vida. Momentos cada vez mais pequenos. E cada vez mais intervalos. Cada vez intervalos "mais maiores". E isto faz-me acreditar cada vez mais nisto de só os momentos valerem e terem importância, significado. Porque tudo o que faz acabar o momento, tudo o que é intervalo só me faz sofrer, chorar. Dói. Dói mesmo. Vou mesmo lá ao fundo. Bato lá no fundo e torna a doer. Assim, agarro-me a momentos passados. Instantes felizes. Tempos bons que funcionam como âncora e bóia. Que me mantêm à superfície enquanto penso neles. Enquanto acredito neles, à espera que o intervalo acabe e volte um momento novo. Algo a que atribue significado. Algo que signifique algo para mim. Algo que me encha. Momentos. A vida de qualquer um de nós é isso. Uma colecção de momentos. No fim, uma curta-metragem de momentos, onde se cortam todos os intervalos. Fica o essêncial. Aquilo que tem significado para nós. Aquilo que nos constitui.
Cada vez acredito mais nisto.