estória §122


O querer nem sempre é o suficiente. Ela pensava que sim. Mas enganou-se. Ela pensava que quando uma pessoa queria muito, que conseguia isso, que o mundo conspirava todo a favor disso. Mas enganou-se. O querer nem sempre é suficiente quando isso também depende de mais alguém. Porque é preciso dois “querer” para no fim o resultado dar positivo. Pois “mais” com “menos” dá "menos". Por mais que o “mais” seja grande, ele não vence o “menos”. O que é pena. Não basta uma pessoa querer muito, desejar muito isso, afirmar que daria tudo e mais alguma coisa. Isso não chega e não leva a lado nenhum. Ela concluiu isso, com pena. Ela nunca teve tanta pena de o resultado ser “menos”. 

estória §121


Queria ser forte o suficiente para seguir em frente. Não gosto de incertezas. Queria respostas. Não as tens e eu tenho que ser forte o suficiente para seguir outro caminho. É altura de pegar no mapa e ver outra direcção. Ou então arriscar e ir à descoberta. Virar para um sítio qualquer. Novo. E não ficar a tentar ir por um que, por mais que avance, parece que não saio do mesmo lugar. Eu queria muito continuar a ir por este caminho, mas para ir sozinha tenho que ir por outro. Tenho que pensar seriamente nisso. Qual o outro caminho que posso começar a ir.
“E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.”       *Susana Tamaro

(Eu não queria nada que fosse assim...)

estório §120


Ela não contava com ele. Ou melhor, ela não contava com ninguém. Não estava à espera que alguém novo fosse aparecer na sua vida. Mas ele veio. Ele entrou de um modo estranho na vida dela. E foi ficando. E ela começou a gostar. E gostou rápido, como lhe acontecia sempre que começava a gostar de alguém. Ele continuou lá. Mesmo quando não estava pessoalmente, ele continuava presente no seu pensamento [e continua]. Coisas boas foram acontecendo. Coisas que a deixavam feliz. Ele deixava-a feliz. Mas ela sempre teve medo e mostrava-se insegura. No fundo, ela tinha medo que isto fosse como era das outras vezes que gostava de alguém. E acabou por ser. Afastaram-se sem, se calhar, se darem conta, sem o quererem fazer. Mas estava a acontecer. Houve falhas. Ela não queria aquilo. Ela tinha certezas. Do que sentia. Do que queria. Apesar disto, duvidava dele. Ele não tinha certezas. As coisas para ele tinham desaparecido. E isso já não a deixava feliz. Mas antes com saudades. Saudades dele. Do que existiu. E, principalmente, do que poderia ter existido.

estória §119


O tempo podia voltar para trás. Às vezes isso podia acontecer. Podermos voltar para trás. Saltar de momento em momento. Relembrar exactamente o que se viveu, onde se estava, com quem se estava, o que se sentiu, o que aquilo provocou em nós, o que aquilo deixou em nós. E mais. Poder mudar, poder reagir de outro modo, ter outra atitude, dizer coisas diferentes. Ou simplesmente deixar tudo como foi e apenas reviver.