estória §109


É um medo enorme que me anda a atormentar os dias. O sobressalto constante. Os pensamentos de tudo e mais alguma coisa a circularem na minha cabeça. O coração acelerado que parece que vai sair do peito. E o desejo de pegar em mim e só em mim e fugir. Ou melhor desaparecer. Não pensei que crescer fosse tão difícil. Não pensei que me “atacasse” desta forma. Mais preocupações. Mais dúvidas. Mais incertezas. Mais responsabilidades. Mais o “meu eu” que fica em jogo. Mais riscos. Menos tempo. Menos confiança. Menos esperança. Menos certezas. Menos vontade. A vida realmente não é como queríamos que fosse. Só quando estamos no momento é que sabemos como estamos, o que sentimos. E sinto medo. Se fosse criança poderia ir correr para os braços de alguém e ficar ali aninhada. A sentir o calor do outro. E isso seria normal. Mas agora não posso simplesmente correr e deixar tudo para trás, como os brinquedos. Agora é preciso ficar quando a vontade é ir. Agora é preciso mostrar de que se é capaz quando não acreditamos. Agora é preciso enfrentar um mundo quando não temos confiança. Agora é preciso ser adulto quando apenas queríamos voltar a ser criança. Queria ter certezas. Queria sentir-me segura de mim. Daquilo que sou. Daquilo que consigo fazer. Daquilo que sou capaz. Mas é tão difícil. É tão difícil quando não acreditamos. É tão difícil quando estamos perante os outros que esperam algo de nós. É tão difícil quando nos podem apontar o dedo. É tão difícil quando não temos o nosso “suporte”. É tão difícil quando não sabemos o que vai acontecer. É tão difícil quando saímos da nossa zona de conforto. Sim, é difícil e dá medo.

estória §108


E por vezes temos a mania de pensar no que já aconteceu. Onde nos encontrávamos a tal dia, a fazer o quê, com que pessoas. Algo que acontece despoleta esse pensamento, vai buscar essa lembrança já tão bem arrumada, algo que pensávamos já termos esquecido. Afinal não. Afinal está lá. Ainda está lá. E isso pode ser bom. Podemos relembrar momentos fantásticos com pessoas de quem gostamos. Podemos sorrir com isso. E isso pode ser menos bom. Pode ser uma lembrança daquelas que são mesmo para ficar sempre adormecidas, sempre lá muito bem guardadas. Por vezes é melhor não pensar no que já aconteceu. É passado. Já lá vai. É melhor pensar no que há agora, no que está a acontecer agora. Onde nos encontramos agora, o que andamos a fazer, com que pessoas estamos. É nisso que temos que pensar.