estória §29


Todos os dias aprendes. Veste a roupa que tanto gostas e bota o perfume mais caro que guardaste para aquele dia. Vai à luta, mesmo que tropeces ou te magoes. Se não arriscares nunca saberás. Amanhã nada te garante que o teu sopro de vida não acabará. Sai de casa, bebe um shot, diz aos teus melhores amigos que os adoras, diz aquele que te completa o quanto o amas, agradece aos teus pais, bate palmas e salta. Estás vivo. 
*Margarida Rebelo Pinto

Cada vez mais que nunca temos que aproveitar o dia. Tens que o aproveitar como se fosse o último. Faz tudo o que queres fazer. Diz tudo o que queres dizer. Pensa tudo o que queres pensar. Aprende tudo o que poderes. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje. É isso! Veste aquela roupa que tanto gostas. Anda bonita. Sente-te bonita. Nunca se sabe se não é o dia. Coloca aquele perfume para os dias especiais. Sabes lá se hoje não é um deles? Come aquele doce que tanto gostas. Gorda? Gorda não. Saciada e feliz sim! Levanta-te de todas as vezes que caíres. Aprendes sempre algo com isso. Nem que seja como cair outra vez. Diverte-te sozinha ou com alguém. Dá uma enorme festa ao teu animal de estimação. Ele é um grande amigo. A sério. Aproveita tudo. Diz a quem gostas o quanto gostas. É bom ouvir isso. Abraça. Ri. Lembra. Chora. E fica feliz. Vai sair e que seja só ramboiada! Sonha acordada e a dormir. Sonha em coisas impossíveis a pensar que um dia, quem sabe, não se concretizam. Mas não te esqueças que também podem não passar de sonhos. E aí.. Bem, continua a sonhar. Faz tudo como se fosse o dia e não mais um dia. Nunca sabes o que te vai acontecer hoje. Sabes lá se não será o dia!
Não deixes para amanha o que podes fazer hoje.

estória §28


Entram-nos pianos pela alma adentro ao longo da vida. Por vezes contamos com eles, mas quando entram mesmo, aí ficamos sem saber o que fazer e desarrumamos a sala toda à procura de um sítio para o pôr. E lá nos adaptamos a esse piano. Mudamos o que for preciso para que ele caiba lá. Aonde estava tudo tão equilibrado. Mas arranjamos modo de ele lá ficar. Acomodamos-nos. Até que entra outro e volta tudo ao início. A vida pode resumir-se a um entrar e acomodar de pianos. Parece uma visão diferente da coisa, não é? Pianos.. Há vários tipos de pianos. Há uns que ficam 5 estrelas! Era mesmo aquilo que queríamos e precisávamos. Como puderam adivinhar tal coisa? Uma pessoa até fica espantada! Serve diretinho na sala. Não é preciso fazer muitas mudanças e combina mesmo com o que já estava lá. Há uns que dão mais trabalho. Se calhar não estávamos a contar tanto com eles. Não estávamos tão preparadas para o receber. Mas lá se arranja solução. Um jeitinho aqui, outro ali. As coisas lá se compõe. E passado um tempo, já faz parte da mobília, como se costuma dizer. Há pianos bons e maus. Há uns que entram pela janela assim com o vento. Será possível? É. Não estamos mesmo nada à espera. Nem sabíamos que a janela estava aberta. E olha! Entrou e não demos conta. Não percebemos o porquê. Não tinha razão para entrar. Mas entrou. E por um lado acomodamos-nos a ele e acabamos por gostar do piano. Por outro lado, parece que não fica nada bem lá na sala. Parece a mais. Há qualquer coisa nele que não gostamos. Mas também gostamos. Estes servem para nos por à prova. Para nos testarem. Gostamos mas não o podemos ter. Não estávamos à espera mas acabámos por gostar. Só que não fica bem na sala. Era preciso desarrumar demasiada coisa para o pôr lá. E tinha-se que lhe dar uns retoques. Tinha-se não só que mudar a sala como o próprio do piano. É pena. Porque eu até gostava (e gosto) do piano.
Gostamos mas não o podemos ter.

estória §27


Há que desenvolver uma estratégia completa e cortar o mal pela raiz. Acreditar na máxima «longe da vista, longe do coração» - a qual nem sempre resulta, mas vale a pena tentar - e não telefonar, não enviar mensagens, não marcar encontros, a todo o custo não ver a amêijoa. por melhor que ela seja, é um prato que pode sair caro, com risco de envenenamento, para o qual ainda não foi inventado nenhum antídoto eficaz. 
*Margarida Rebelo Pinto 

Quando algo assim acontece, creio que o melhor mesmo é cortar o mal pela raiz. Custa, mas o melhor é não ver a dita amêijoa. Podemos ver o lado positivo da coisa, ao menos não gastamos dinheiro a comprá-la. Quer dizer, se for para nós cozinharmos. Se formos a casa de alguém e houver amêijoa para a refeição.. Bem, nesse caso, não sei o que se faz. Nunca estive nessa situação. Nunca vi assim a amêijoa sem esperar. Por isso não sei o que se faz em situações assim. Não sei se o melhor é comermos para não fazer desfeita à dona da casa ou se é melhor dizermos que não estamos muito bem do estômago e o melhor é não abusar nos mariscos. Não sei o que é melhor. Mas assim por instinto não fazia a desfeita à dona da casa e comia a amêijoa.Mas para dizer a verdade, eu não gosto de marisco. Mas também quando vou a casa de alguém e não gosto da comida, como menos, não é assim que se faz? Mas depois parece-me que não devíamos fazer isso. Então onde fica o cortar o mal pela raiz? Pois.. depois não há antídoto para o envenenamento. Assim, o melhor mesmo é perguntar se vai haver amêijoa antes de irmos a algum sítio. Se houver, é simples. Não vamos. Não há encontros para ninguém. Longe da vista, longe do coração. Difícil e não é 100% fiável. Mas ajuda. E se ajuda, é bom. Ou não. 
Mas para dizer a verdade, eu não gosto de marisco.