estória §28


Entram-nos pianos pela alma adentro ao longo da vida. Por vezes contamos com eles, mas quando entram mesmo, aí ficamos sem saber o que fazer e desarrumamos a sala toda à procura de um sítio para o pôr. E lá nos adaptamos a esse piano. Mudamos o que for preciso para que ele caiba lá. Aonde estava tudo tão equilibrado. Mas arranjamos modo de ele lá ficar. Acomodamos-nos. Até que entra outro e volta tudo ao início. A vida pode resumir-se a um entrar e acomodar de pianos. Parece uma visão diferente da coisa, não é? Pianos.. Há vários tipos de pianos. Há uns que ficam 5 estrelas! Era mesmo aquilo que queríamos e precisávamos. Como puderam adivinhar tal coisa? Uma pessoa até fica espantada! Serve diretinho na sala. Não é preciso fazer muitas mudanças e combina mesmo com o que já estava lá. Há uns que dão mais trabalho. Se calhar não estávamos a contar tanto com eles. Não estávamos tão preparadas para o receber. Mas lá se arranja solução. Um jeitinho aqui, outro ali. As coisas lá se compõe. E passado um tempo, já faz parte da mobília, como se costuma dizer. Há pianos bons e maus. Há uns que entram pela janela assim com o vento. Será possível? É. Não estamos mesmo nada à espera. Nem sabíamos que a janela estava aberta. E olha! Entrou e não demos conta. Não percebemos o porquê. Não tinha razão para entrar. Mas entrou. E por um lado acomodamos-nos a ele e acabamos por gostar do piano. Por outro lado, parece que não fica nada bem lá na sala. Parece a mais. Há qualquer coisa nele que não gostamos. Mas também gostamos. Estes servem para nos por à prova. Para nos testarem. Gostamos mas não o podemos ter. Não estávamos à espera mas acabámos por gostar. Só que não fica bem na sala. Era preciso desarrumar demasiada coisa para o pôr lá. E tinha-se que lhe dar uns retoques. Tinha-se não só que mudar a sala como o próprio do piano. É pena. Porque eu até gostava (e gosto) do piano.
Gostamos mas não o podemos ter.

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