estória §116


Estar à espera é das piores coisas que me pode acontecer. Estar à espera de algo que depende do que eu já fiz mas que agora não depende de mim, em que eu não posso fazer nada para apressar isso, ainda é pior. O coração fica apertado, com medo. A cabeça começa a pensar [ainda] mais e instala-se um turbilhão de ideias que não têm nada bom aspecto. Considero-me uma pessoa paciente, mas se calhar não sou assim tanto. No meio disto tudo, nasce em mim uma ansiedade que fica difícil de controlar e me deixa de um certo modo incapacitada para fazer outras coisas. Parece que só vejo aquilo à frente, o motivo da espera. Digo para mim mesma que não vale a pena ficar assim, pois isso não vai diminuir a espera. Mas não sou convincente para mim mesma. 

estória $115


Por vezes, quanto mais se pensa pior é. Há que ter a cabeça no lugar e ponderar as coisas. Mas há coisas que não são para ser ponderadas. São para ser sentidas. E assim, quando mais se pensa, mais se baralha o que se sente. Eu tinha uma certeza, ou algumas certezas. Estava sol. E eu tinha certeza disso. Estava aquele sol que nos aquece alma. Como eu tanto gosto. E digo mais uma vez, que eu tinha a certeza. Mas depois algo muda. O céu muda. Aparecem as nuvens e o vento. A alma começa a arrefecer. E as nuvens teimam em ficar. E é aí que se começa a pensar. Pensa-se e torna-se a pensar. Às tantas, já não se faz mais nada se não isso. E depois… E depois perdemo-nos nessa confusão que se instala de tanto pensar. Ansiamos por um mapa. Ansiamos por alguma orientação. Mas não há. Nisto não há mapas. Não há caminhos traçados que possamos seguir. Nisto há apenas sentimentos. Há apenas aquele sol que nos aquece a alma.