estória §93


Passou uma semana. E ela conseguiu cumprir a promessa que fizera aos outros, e que fizera sobretudo a ela mesma. Orgulhosa disso? Nem por isso. Ainda não “acreditava” que isto seria o melhor para ela. Ainda queria tanto falar com ele, estar com ele, resolver as coisas com ele. Mas a verdade é que durante esta semana ele não lhe dissera nada, tal como ela esperara que acontecesse. Ela própria dissera ‘Assim que eu deixar de falar, ele não vai dizer mais nada..’. E assim foi. Pelo menos durante esta semana. No seu íntimo, ela tinha mais uma esperança que ele pudesse dizer-lhe algo, que sentisse “falta” e lhe falasse nem que fosse só um ‘olá!’. Mas depois, a outra metade de si, sabia que isso nunca iria acontecer, sabia que nunca mais iriam falar. E andava a convencer-se que isto era o melhor para si. Uma semana tinha passado e ela continuava com dificuldades a “acreditar” nisso. Mas uma coisa é certa, ela tinha conseguido cumprir a promessa. E tinha de continuar a cumprir. Um dia, sem se aperceber, isto já não faria parte das “coisas importantes”, seria uma mera recordação.

estória §92


É tempo de tomar outro caminho. Os verões servem para isso. Deixar para trás, encerrar um capítulo e ter a coragem de dar o primeiro passo, novamente. No verão é a escola que acaba, é a faculdade que acaba, é o trabalho que acaba, são amizades que terminam, são amores que se enterram. É no verão que a praia chega, que o sol vem em todo o seu esplendor, que os trabalhos de verão começam, que está a dispor novas oportunidades, novas pessoas, novos sorrisos, novos abraços. É a meta e a partida.
Hoje é o dia de começar um novo caminho. Hoje : )


estória §91


Ela estava tão nervosa como da primeira vez que se encontrara com ele, naquela noite fria de Dezembro do ano passado. Já fora há tanto tempo, mas ela recordava-se do momento de nervosismo por ir passear só com ele. Agora aqui estava ela, deitada no sofá a ver televisão. Todavia a sua atenção não estava no filme banal que passava na tv sobre 4 amigos. O coração batia a mais de 100 à hora, o peito estava apertado e ela pensava que estava mais nervosa que nessa noite em que foi passear com ele. O pensamento dela vagueava entre o passado e as suas expectativas sobre o futuro. Ela queria tanto falar com ele e esclarecer as coisas e, ao mesmo tempo e neste exacto momento, não sabia se o queria mesmo. Estava tão nervosa que o medo começa a espreitar e a sua determinação em esclarecer as coisas estava-se a desmoronar. Perguntas e perguntas invadiam-lhe a cabeça. Será que ainda tinha alguma lógica ela ir falar disso? Será que era mesmo o que ela queria fazer? Será que devia desistir e seguir em frente sem olhar para trás? E se ela não conseguisse falar disso? E se fosse isto uma estupidez e os outros tivessem razão? E se ele dissesse o que ela desejaria ouvir? Estava a ficar atormentada e cada vez mais nervosa e ansiosa pela hipótese de se ir encontrar com ele ao fim deste tempo todo e depois de múltiplas tentativas sem sucesso. Sentou-se no sofá e pensou que não podia ser assim. Que ela dissera sempre que daria tudo para poder falar com ele e esclarecer isto. E que tinha que ter a coragem para o fazer agora que essa oportunidade estava a bater à porta. Não podia acanhar-se e ficar com medo. Isso era o que ele andara a fazer durante estes meses. A evitar encontrar-se com ela, a evitar responder às mensagens, às perguntas sobre isto e a todas as hipóteses que ela lhe dissera haver entre eles e às quais ele não respondeu nem sim nem sopas. Ele era aquele que não demonstrara coragem nem vontade. Ela era aquela que queria esclarecer tudo e, que no fundo, tinha uma esperança ínfima que as coisas pudessem acabar bem. Contra todos os factos que tivera ao longo destes meses, ela ainda tinha essa esperança. Ela dizia que precisa de ouvir da boca dele o que pensava para que pudesse seguir o seu caminho. Todos lhe diziam que não devia de insistir mais nisto, pois ele já tinha demonstrado o que queria, ou melhor, o que não queria, e que isto só a iria magoar mais. Mas a sua teimosia e a esperança que existia ainda no seu pequeno coração, faziam-na avançar com toda esta história. Ela tinha de conseguir e tinha que mostrar aos outros que sim, ela poderia sair muito mais magoada, mas que aquilo lhe iria fazer bem, no final, para poder continuar o seu caminho. Era por ela que ela queria fazer isto. No fundo, ela desejava tanto ter alguém ao lado dela, alguém que lhe desse atenção, miminhos e abraços e a quem ela pudesse dar isso também. Ela precisava disso, pensava que de outra maneira seria tão difícil caminhar daqui para a frente. E com esta atitude ela estava a ser egoísta e a não dar o merecido valor àqueles que ela tinha à sua volta, que sempre estavam lá para ela e que lhe davam todo o apoio, independentemente se concordavam ou não, como neste caso. No fundo, ela tinha noção disto, mas ela estava com tantas certezas que não conseguia seguir o seu caminho se não insistisse neste encontro. Tinha mesmo que acontecer e ela tinha que ter coragem e não sofrer por antecipação. As coisas iam ficar esclarecidas, fosse como fosse.

estória §90


És uma coisa que me afecta. E afectas-me mais do que aquilo que devias afectar. Quer dizer, não me devias de afectar em nada. Não devias ter esse poder sobre mim. Porque eu devia de me estar a lixar para ti. Mesmo que não queiras e que eu não queira, acaba por ainda haver uma esperança ínfima, tão ínfima que mal se nota, mas que para mim significa muito. Depois tiras-me essa esperança como se me tirassem o chão e eu caio sem saber o que fazer para impedir isso. E isto acontece sempre e sempre, e vai voltar a acontecer. Não devia ser assim. Mais uma vez digo que não devia ser assim. Eu não tenho este poder em ti e tu não o devias ter em mim. Não. Mas eu sou a culpada disso. Dou importância a uma coisa que não merece. Permito que isso entre na minha vida e a comande em demasia. Mas eu sou assim. Esta sou eu. A dar importância a quem não merece, a quem não me dá nem metade. E eu apenas queria que me desses um bocadinho do teu tempo. Meia hora, talvez mais talvez menos. Dependia de ti também. Mas talvez meia hora fosse suficiente. Contudo, parece que não tens esse tempo para mim. Não tens, não queres. Foges. Sinto que foges disto. Acho que não tens coragem para vir ter comigo e falarmos. Sim, porque eu só quero conversar contigo.