estória §83


Comecei[-te] a arrumar. Abri uma gaveta das que estavam vazias na grande estante que tenho [em mim]. Não gosto de arrumar estas coisas. Só gosto de mais tarde as rever e sorrir com tudo o que me vem à cabeça. Mas para isso terei sem dúvida de [te] arrumar. Hoje abri a gaveta. Tomei esta árdua decisão. O que custa é o primeiro passo, é o que se diz. Espero que agora os outros passos venham mais naturalmente e não exijam tanto de mim. Fico exausta. E só me apetece deitar-me, fechar os olhos e pensar que tudo poderá ficar bem. Mas a vida não é assim tão fácil. As coisas nem sempre são como nós gostaríamos. E isto está bem longe de ser o que que queria. Mas hoje abri a gaveta. E estou sentada em frente dela simplesmente a olhar. E acabei por decidir que [te] ia dar a última oportunidade antes de arrumar definitivamente as [tuas] coisas. Espero que este pequeno intervalo seja aproveitado. E que as coisas tomem o rumo [que tu aches] certo. Eu sei qual seria esse rumo. Mas não sou eu que vou decidir isso. Não me compete a mim decidir muito mais coisas. Não vou fazer muito mais. Vou ficar quieta. Deixar o intervalo passar e depois arregaçar as mangas e arrumar[-te], com o objectivo, não de [te] esquecer, mas sim de organizar a vida e começar um novo caminho e mais recordar tudo.

A gaveta ainda está aberta. E o intervalo ainda não acabou.

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