estória §127


É como um pedaço de plasticina. Se deixado ao ar muito tempo sem se moldar, acaba por secar. Quando voltamos a olhar para esse pedaço de plasticina, está feio, rijo e com fissuras. E pensamos em voltar a moldá-lo. Mas é então que nos deparamos com um grande problema. Assim que tocamos nesse pedaço e o envolvemos com as mãos, este começa-se a partir aos bocadinhos. Abrimos as mãos e qual é o nosso espanto quando reparamos que está tudo esfarelado. Olhamos um pouco desiludidos e pensamos que não vai haver muito mais a fazer para aquilo poder voltar ao original. O melhor é deitar fora. Por momentos pensamos isto. Mas há algo, que não sabemos bem o quê, que nos retém um pouco. Acabamos por pegar bocadinho a bocadinho e juntar. São bocadinhos tão pequeninos. Ninguém dá nada por eles. Mas ao juntar uns com os outros, a coisa vai tomando forma. Todos esses bocadinhos vão ficando mais macios, mais maleáveis e recomeçamos a ter esperança que aquilo afinal volte ao normal. É uma luz ao fundo do túnel. Mesmo que pequenina, ganhamos força para continuar a juntar todos os bocadinhos. Afinal, há algo que se pode fazer e nada está perdido. Aquele pedaço de plasticina deixado com o tempo vai voltar à sua consistência habitual. E ficamos felizes porque conseguimos isso de volta. Agora sabemos que temos que o continuar a moldar todos os dias. Se não este acaba por voltar a secar e aí, bem, teremos que recomeçar, mais uma vez.
Afinal, todos aqueles bocadinhos insignificantes, que pensávamos não dar em nada... Afinal, se tivermos paciência, coragem e vontade, conseguimos fazer com que se (re)transforme em algo.
É assim com a amizade. É assim com o amor. [Penso eu].

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