estória §12


Anda daí, vem sentar-te na Lua comigo. Imagina o trabalhão que tive, agarrei uma estrela só para ti. Somos amigos há tantos anos, muitos mais do que aqueles que já vivemos. Sei que só tenho dezoito anos e que ainda agora entrei para a faculdade, mas acho que nasci com uma alma antiga: olho para o mundo e vejo mais longe do que muitos conseguem alcançar.
Talvez a nossa amizade venha de outro tempo, um tempo sem tempo, uma existência eterna e paralela onde tu também tens dezoito anos e todas as noites podemos subir à Lua e apanhar estrelas, agora tão fugidias. A tecnologia tornou-as mais rápidas e são muito difíceis de apanhar. Mas por ti, por tudo o que me ensinaste, por tudo o que já vivemos - ainda que em sonhos - por tudo o que aprendi a ser contigo, por ti, eu apanho as estrelas que forem preciso.
Anda daí, vem sentar-te comigo. Nunca faz frio cá em cima e instalaram umas escadas rolantes para não nos cansarmos na subida. A Lua forrou-se de almofadas brilhantes e distribui mantas e bebidas aos visitantes.
Negociei um lugar cativo com um patrocinador oficial, assim podemos ir lá todas as noites, se quiseres, se puderes, se tiveres tempo e vontade, tu que andas sempre a correr contra o tempo, contra comboios, contra quem está contra ti.
Não sei se também serei escritor um dia. Sonho com isso, mas faz-me impressão ver-te todos os dias, fechada, a lutar contra o silêncio, contra as palavras, contra o teu coração. Falta-te a respiração do mar, uma existência serena, a capacidade de desligar. Falta-te tempo e energia. Mas nunca te hão-de faltar os verdadeiros amigos, como eu.
Nem sempre conseguimos encontrar-nos no momento presente, nem sempre tens tempo para mim, mas sei que posso contar contigo, que, num momento de crise, estarás ao meu lado, que voltarás sempre, porque se a vida é um eterno regresso a casa, a amizade é um amor eterno.
Vá lá, anda daí, vamos os dois um bocadinho à Lua. Quando voltarmos à terra estarás mais bela e mais feliz. Acredita que o tempo em que estamos com aqueles que nos querem bem é sempre um tempo ganho, como quem acumula pontos de felicidade para o futuro.
Seja na Lua, ou cá em baixo entre os homens - tanto faz o tempo e o lugar - o que conta é o modo de ser e de amar. 
*Margarida Rebelo Pinto

É bom podermos nos sentar na Lua. Sentar num lugar cativo. Que sempre será nosso. Um lugar confortável onde até nos dão bebidas! Sentamos-nos nas almofadas e para ali estamos a noite toda. Sem dar conta de o tempo passar. Rodeadas pelas conversas, risos, pausas e compreensão e entendimentos, olhares e sorrisos. E depois dou-te aquilo que tenho para ti. Ponho-te nas mãos aquilo que quero que sejas para mim. Agarrei uma estrela só para ti. Esforcei-me e consegui! A mais bela que achei e espero que gostes. É que dá mesmo trabalho agarrar uma estrela. Mas por ti. Por tudo o que me ensinaste. Por tudo o que já vivemos. Por tudo o que aprendi a ser contigo. Por ti. Eu apanho as estrelas que forem preciso! Espero que guardes essa estrela num lugar importante e especial para ti. Que te faça lembrar de mim. Dos nossos momentos. Das nossas conversas. Do tempo que passámos juntas. Para que te lembres da nossa amizade. De tudo o que fazemos uma pela outra. E espero que guardes a minha estrela para eu saber se estás aí para mim. Que posso contar contigo. Que voltarás sempre. Porque se a vida é um eterno regresso a casa. A amizade é um amor eterno. E o nosso também será! Por isso, anda comigo à lua todas as noites. É bom falar com alguém que nos é querido antes de ir para o vale dos lençóis, não achas? Poder esvaziar o pensamento e dizer tudo o que nos vai na alma. E depois irmos para a caminha com um sorriso na cara. E para depois poder encher a cabeça de sonhos e ficar com o espírito renovado para o dia seguinte. Porque os amigos têm esse poder. Ajudam-nos a deitar cá para fora todas as coisas que nos atormentam e absorvem todas aquelas que têm uma certa magia para nós. E também têm o poder de nos alegrarem e de nos fazerem dar umas belas gargalhadas! Vá! Anda daí! Vamos os dois um bocadinho à lua!
Ponho-te nas mãos aquilo que quero que sejas para mim.

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