Adoro fotografias. Adoro tirar fotografias
a tudo e mais alguma coisa. Adoro tirar fotografias àqueles e com aqueles que
mais gosto. Gosto de fotografar por um simples facto. Para mim é como se
conseguisse que as coisas sentidas, pensadas, ditas naquele momento em que se
tira a fotografia, é como se tudo ficasse lá, naquele rectângulo de cor ou a
preto e branco. Um rectângulo que pode conter o segundo mais feliz, a batida do
coração mais forte, o abraço mais sentido, o sorriso mais sincero, a força de
esconder uma lágrima. Tudo corre tão rápido à nossa volta, o tempo não pára nem
um segundo. É incrível. E, por vezes, parece que as coisas passam por nós demasiado
rápido. Escapam-nos das mãos como se fosse água. Por isso gosto de fotografias.
Lá está tudo. Num segundo guarda-se tudo. As fotografias têm esse poder
fantástico. Pelo menos para mim. E é verdade. Há uma outra razão para gostar
tanto de fotografias. Eu sou uma pessoa esquecida. Não é defeito, já é feitio.
E as fotografias ajudam. É sempre mais fácil lembrarmos coisas quando vemos uma
fotografia. Olha-se e as coisas vão surgindo na cabeça. Lembramos isto e
aquilo. O que foi dito por nós e por quem estava connosco a partilhar este
momento. Lembramos como estávamos. Se contentes, se tristes, se bem dispostos.
E depois reparamos que estamos com um sorriso na cara. Que a saudade começa a
querer espreitar. Vem a nostalgia. É bom. É uma sensação boa, reconfortante.
Fica-se feliz. Ao olhar-se para o passado e lembrar os momentos passados
através de uma fotografia. Está tudo como que eternizado naquele rectângulo. É
magia. Pura magia. Mas nem sempre uma fotografia nos traz algo bom. Pode-nos
vir ao pensamento um momento mais difícil, mais triste. Mas isso também é bom,
vendo por outro lado. Estamos aqui, no presente, bem, felizes por recordar algo
menos bom que já nos aconteceu. Pois, é isso. Algo que já passou. Ao qual
sobrevivemos, diga-se. Estamos aqui a lembrar esse momento. E podemos escolher
não o lembrar mais. Guardar a fotografia no baú lá em cima no sótão. Ou então
olhar para ela quando calhar e pensar que passámos por aquilo e que agora
estamos aqui felizes. Com as fotografias é assim. Podemos escolher se as
queremos ver, se queremos lembrar aquilo. Dá muito jeito. Com as fotografias
faz-se o que às vezes se gostaria de fazer com a vida, com esses momentos
fotografados. Viver ou não esses momentos, esses rectângulos. Pensar o que
quisermos sobre eles. Escondê-los ou deixá-los na nossa vida. Eternizar algo
bom. Eternizar tudo, tudo.
É magia. Pura magia.
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