Sentámo-nos. Não existia mais nada além de
nós, do verde à nossa volta e do azul e branco do céu. O sol espreitava de vez
em quando por detrás das nuvens. Aqui parece sempre que está tímido, que tem
medo de se mostrar. Tal como eu. Permaneci sentada no banco. Com o casaco
vestido, mas não tinha frio. Estava bem. Estou bem aqui. Depois de algum tempo deitei-me.
Pus o capuz na cabeça e deitei-me no banco. Fechei os olhos e deixei tudo.
Quero deixar(-te). Não havia mais nada. Só ouvia o vento. As ovelhas e as vacas
como que a falarem. Até elas parecem que falam. Também gostava que nós falamos.
Nem que fosse só que parecesse. Ouvi por vezes algumas bicicletas e pessoas que
passavam pelo caminho ali ao lado. Mas mais nada. O sol ganhou coragem e
atreveu-se a espreitar. E senti o seu calor. Senti a cara quentinha e as
pernas. Foi bom. Fiquei ali assim sem pensar em nada. Com os olhos fechados, os
braços em redor do corpo. A cabeça vazia. Completamente vazia. Não estavas nos
meus pensamentos. Apercebo-me agora. Abri os olhos por momentos e só vi o céu.
Existiam algumas nuvens. E constatei que nada parara naquele momento. Via as
nuvens a andar. A terra continuava a girar. Tudo continuava a mover-se. Tudo
continuava a acontecer. Mas na minha cabeça tudo estava tão parado. Não existia
nada. Não existias. Nenhum pensamento. Nada mesmo. Só uma coisa veio estragar,
por assim dizer. O vento. Nada é perfeito para sempre. É verdade. Mas aquilo
foi perfeito enquanto durou. Mesmo que tivesse sido só algumas horas. Foi bom
ter acontecido. Comecei a sentir o vento mais vezes. A passar por mim. E fiquei
com frio. Estava mais forte. Estava a mandar-me embora. Sentei-me novamente.
Pus o lenço em redor do pescoço e fechei o fecho do casaco. Estava arrepiada.
Não pensei na altura. Mas agora gostava que me tivesses abraçado. Tinha sido
bom. Mas o objectivo aqui é não pensar e deixar as coisas irem. Por isso,
estava ali só mas não sozinha. Levantámo-nos e começámos a andar de volta para
aqui. Estava tão bem. Sentia-me leve. Leve de ti. Não pensei nem um segundo em
nada de ti.
E isso pôs-me um sorriso por dentro. Que apenas eu podia ver.
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