Era tão agradável ouvi-la falar dele. A sua voz calma e melodiosa,
onde em cada palavra se sentia ternura. E era ainda mais uma doçura ver como o
corpo dela falava sobre ele, como os seus olhos brilhavam, como o sorriso se
desenhava na sua cara. Tudo queria transmitir o mesmo. Amor. E eu pensei, ‘um
dia também quero falar assim de alguém’. Ela estava na outra mesa a falar sobre
ele sem ele lá estar. Contava como ele lhe tinha roubado um beijo um dia e como
ela fizera cara de zangada e lhe dissera que o achará atrevido. Mas no fundo,
ela confessara agora que tinha gostado. Contou depois como ele era gentil e um
verdadeiro cavalheiro, que lhe abria sempre a porta para ela passar, que falava
de forma doce com ela, que a punha sempre em primeiro lugar e se lembrava
sempre dela. Disse também que ele era muito divertido, que a punha bem-disposta
e sabia ter uma boa conversa com ela e com qualquer outra pessoa. E eu pensei, ‘eu
quero isto, eu quero alguém assim’. Ele voltou depois de ter ido comprar os
seus jornais e deu-lhe para a mão um pacotinho. Ela abriu e sorriu, eram
castanhas assadas quentinhas. Ela voltou e disse, ‘era isto que eu falava,
estão a ver?’.
estória §106
Esperar pelo melhor e preparar-se para o pior: eis a
regra.
(Fernando Pessoa)
(Fernando Pessoa)
E se uma pessoa só cumpre uma parte da regra? Se uma pessoa só espera
pelo melhor e não faz mais nada? Se uma pessoa só faz isto, acontece o que
acontece quando não se cumprem as regras. Como qualquer criança que fica de
castigo. Como qualquer adulto que paga uma multa. Sofre-se as consequências. E
não, não estamos preparados. Se tivéssemos, não haveria castigo nem multa. Por
vezes é difícil. Entramos num mundo nosso, onde as coisas correm bem e as expectativas
chegam, mesmo que não as queiramos ter. Elas chegam e nem pedem com licença para
entrar na nossa cabeça e no nosso coração. Quando nos apercebemos já elas estão
bem instaladas num cantinho escondido, com raízes já criadas e tudo. Acho que
são tipo ervas daninhas. Tornam-se em ervas daninhas se não temos cuidado. Se
não cumprimos a outra parte da regra. Se não nos prepararmos para o pior. Sem
isso, temos que lidar com a situação. Temos que arranjar forças a dobrar e
tentar arrancá-las de lá. Custe o que custar. Se elas ficarem, vão-se tornando
maiores e vão conquistando mais território. E depois é ver expectativa atrás de
expectativas. De uma forma tão descontrolada que aflige um coração só de
pensar. Antes que isto tome estas proporções temos que arranjar forças, vindas
lá bem do fundo onde pensávamos que já não houvesse. Cortar o mal pela raiz.
Após isso, é tratar do terreno e pô-lo como novo. E, muito importante,
prepararmo-nos para o pior e só depois esperar pelo melhor.
estória §105
Às vezes é preciso mudar. Fazer mudanças na nossa vida. Pequenas
coisas diferentes no nosso dia-a-dia, na nossa casa, em nós próprios, na forma
como lidamos com os outros. Pequenas coisas que fazem diferença na forma como
vivemos e como vemos a vida. Podemos não pensar que essas pequenas coisas não
são suficientes, porque pensamos que são pequenas demais. Mas são essas que
fazem a maior diferença. Uma simples troca de móveis e umas almofadas e umas
fotos novas e a casa parece outra. Acordar, espreguiçar e pensar nas coisas boas
que vão acontecer e o dia já está a começar bem. Andar com um sorriso na cara,
faz logo diferença para os outros que se cruzam connosco. Uma mensagem com
apenas “Olá!” de alguém que gostamos e a felicidade estampa-se logo no nosso
rosto. Basta um gesto, uma atitude, uma palavra, basta qualquer pequena coisa
para tornar tudo diferente. Às vezes só queremos isso, só precisamos disso.
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