estória §95


‘E se eu te dissesse ‘Olá!’?’, pensa ela com o coração nas mãos, a olhar para ambos os lados como se estivesse a fazer algo errado e na esperança que ninguém a visse. Ou melhor, na esperança que ninguém lhe leia o pensamento e lhe diga automaticamente que não o deve fazer, que não deve pensar naquelas coisas, que não deve pensar nele. Mas ele está ali. Presente como nunca no seu pensamento e é tão tão difícil largá-lo para trás e seguir. É tão tão difícil vê-lo ali num pequeno quadradinho do seu ecrã e não fazer nada. Provavelmente ele não iria responder. O quadradinho iria desaparecer e ela até poderia dizer para si mesma que calhou ele ir-se embora quando ela resolveu dizer-lhe ‘Olá!’. Foi apenas uma coincidência. Não. Isto seria uma desculpa que ela dava a se mesma, para se consolar. Mas só estava a enganar-se a ela própria. No fim, ela conseguiu não dizer-lhe ‘Olá!’. Conseguiu não o dizer hoje.

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