Ela estava tão
nervosa como da primeira vez que se encontrara com ele, naquela noite fria de
Dezembro do ano passado. Já fora há tanto tempo, mas ela recordava-se do
momento de nervosismo por ir passear só com ele. Agora aqui estava ela, deitada
no sofá a ver televisão. Todavia a sua atenção não estava no filme banal que
passava na tv sobre 4 amigos. O coração batia a mais de 100 à hora, o peito
estava apertado e ela pensava que estava mais nervosa que nessa noite em que
foi passear com ele. O pensamento dela vagueava entre o passado e as suas
expectativas sobre o futuro. Ela queria tanto falar com ele e esclarecer as
coisas e, ao mesmo tempo e neste exacto momento, não sabia se o queria mesmo.
Estava tão nervosa que o medo começa a espreitar e a sua determinação em
esclarecer as coisas estava-se a desmoronar. Perguntas e perguntas invadiam-lhe
a cabeça. Será que ainda tinha alguma
lógica ela ir falar disso? Será que era mesmo o que ela queria fazer? Será que
devia desistir e seguir em frente sem olhar para trás? E se ela não conseguisse
falar disso? E se fosse isto uma estupidez e os outros tivessem razão? E se ele
dissesse o que ela desejaria ouvir? Estava
a ficar atormentada e cada vez mais nervosa e ansiosa pela hipótese de se ir
encontrar com ele ao fim deste tempo todo e depois de múltiplas tentativas sem
sucesso. Sentou-se no sofá e pensou que não podia ser assim. Que ela dissera
sempre que daria tudo para poder falar com ele e esclarecer isto. E que tinha
que ter a coragem para o fazer agora que essa oportunidade estava a bater à
porta. Não podia acanhar-se e ficar com medo. Isso era o que ele andara a fazer
durante estes meses. A evitar encontrar-se com ela, a evitar responder às
mensagens, às perguntas sobre isto e a todas as hipóteses que ela lhe dissera
haver entre eles e às quais ele não respondeu nem sim nem sopas. Ele era aquele
que não demonstrara coragem nem vontade. Ela era aquela que queria esclarecer
tudo e, que no fundo, tinha uma esperança ínfima que as coisas pudessem acabar
bem. Contra todos os factos que tivera ao longo destes meses, ela ainda tinha
essa esperança. Ela dizia que precisa de ouvir da boca dele o que pensava para
que pudesse seguir o seu caminho. Todos lhe diziam que não devia de insistir
mais nisto, pois ele já tinha demonstrado o que queria, ou melhor, o que não
queria, e que isto só a iria magoar mais. Mas a sua teimosia e a esperança que
existia ainda no seu pequeno coração, faziam-na avançar com toda esta história.
Ela tinha de conseguir e tinha que mostrar aos outros que sim, ela poderia sair
muito mais magoada, mas que aquilo lhe iria fazer bem, no final, para poder
continuar o seu caminho. Era por ela que ela queria fazer isto. No fundo, ela
desejava tanto ter alguém ao lado dela, alguém que lhe desse atenção, miminhos
e abraços e a quem ela pudesse dar isso também. Ela precisava disso, pensava
que de outra maneira seria tão difícil caminhar daqui para a frente. E com esta
atitude ela estava a ser egoísta e a não dar o merecido valor àqueles que ela
tinha à sua volta, que sempre estavam lá para ela e que lhe davam todo o apoio,
independentemente se concordavam ou não, como neste caso. No fundo, ela tinha
noção disto, mas ela estava com tantas certezas que não conseguia seguir o seu
caminho se não insistisse neste encontro. Tinha mesmo que acontecer e ela tinha
que ter coragem e não sofrer por antecipação. As coisas iam ficar esclarecidas,
fosse como fosse.
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