Queres sempre tudo. Queres sempre tudo do teu jeito. És assim e não
admites isso. Acontece uma coisa e começas logo a pensar nisto e naquilo. No
que poderia acontecer, como poderia acontecer. Pensas, ‘mas toda a gente não quer o melhor para si?!’. Sim, elas querem.
Mas tu imaginas muito, fantasias muito para além do que é real, realmente real.
Pará. Por favor. É para o teu bem. Mas não queres acreditar nisso. Dizes que
não consegues parar de pensar, de querer as coisas todas. E depois com o tempo
vês que as coisas não acontecem, vês que nada corre como pensaste, como
querias. E isso deixa-te triste. Contentas-te com pouco, é certo. E não é mau.
Ficas feliz por algo simples. Mas depois pensas e pensas. Não podes pensar logo
em tudo. E depois vais-te abaixo com facilidade. Apesar de tentares não
mostrares e disseres que vais esperar e deixar as coisas andarem. Mas isso não
é verdade. Tu ficas triste. Ficas triste logo quando alguma coisa, por mínima
que seja, não corre do teu agrado. E começas logo a pensar, tal como fazes
quando estás feliz. E pensas logo no pior, tal como pensas no melhor que
poderia acontecer quando estás feliz. És de opostos. Sabes disso? Já te deste
conta? Não, eu sei. Se calhar, estás a aperceber-te disso neste exacto momento.
E pensas, ‘no fundo eu já sabia, no
fundo eu sabia tudo isto que está aqui’. Pois sabes, eu sei que sim, mas
simplesmente não tens coragem para o dizer em voz alta. Tu que até falas alto.
Mas apenas consegues “dizer” estas coisas todas no teu pensamento, onde os
outros não conseguem ver ou ouvir.
Tens que ser crescida o suficiente e
teres coragem, rapariga. Para admitires que és de opostos. Que ficas feliz e
triste facilmente. Que tens os sentimentos à flor da pele. Que pensas demasiado
também. Fantasias e imaginas muito. Voas demasiado alto e depois a queda é
grande, nunca ouviste? Já, eu sei. Queres também tudo e mais tudo. Depois de te
contentares com pouco queres sempre mais e mais. E quando não consegues isso,
voltas a pensar demasiado. És assim. E já não é defeito, é feito. E isto não te
faz bem. Tens que aproveitar tudo no momento e viveres isso. Tu dizes que agora
fazes isso, mas continuas a pensar muito no depois. Prendeste muito a isso. Não
podes. Deixa-te levar. Deixa as coisas irem. Sem preocupação. Sem imaginar
muito. Sem queres demasiado. Para não ficares tão triste facilmente. Vais ver
como é melhor. Como depois andas mais contente, mais feliz. Afinal, é isso que
se quer da vida: ser feliz.
Tudo isto
dito por uma voz. Uma voz dentro de mim.
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