Dar o salto. Ter a coragem suficiente para
saltares de um precipício sem saberes o que está lá em baixo. Sem teres a
certeza de nada. Porque não tens. Estás presa por uma corda. Mas não sabes mais
nada. Podes ficar para sempre cá em cima. Agarras a corda com as duas mãos, bem
firmes mas suadas, e não param quietas para não se notar que estás a tremer,
cheia de medo. O coração acelerado sem o conseguires controlar. Arrastas um dos
pés mais um pouco para a frente. Nem forças tens para o levantares e dares o
passo que te leva em frente, para o desconhecido. Pensas para ti. E ficas ainda
com mais medo. Sentes a corda de volta da tua cintura. Ela vai-te suportar na
queda. Disseram-te. Será mesmo? Pensas para ti. Arrastas agora o outro pé.
Inclinas o tronco e a cabeça um bocado para a frente. Espreitas para baixo. Tal
e qual uma criança assustada quando espreita para baixo da sua cama antes de
dormir, para verificar que o monstro não está lá. Tu também queres que não
estejam monstros lá em baixo. Desejas ter coragem para dar o salto. E que a
queda corra bem. E que, quando, finalmente, lá em baixo, estejas bem, estejas
inteira, que ele esteja inteiro. Mas depois assustas-te, cais em ti mesma e
pensas o quão louco isto parece. Não consigo. Pensas para ti. E quando mais
pensas no medo que tens de não saberes o que vem a seguir, pior ficas. Olhas em
teu redor. Uns já saltaram, outros estão a saltar. Como conseguem? Pensas para
ti. Tanto medo que sentes do que vem a seguir. De não saberes exactamente o que
vem a seguir. Queres que corra tudo bem. Repetes para ti. Mas sabes que nem
sempre as coisas correm bem. Pode doer. Tu não queres magoar-te. E tens medo
que isso aconteça. Medo de ganhares coragem para dar o salto e que depois a
queda seja horrível e chegas lá abaixo “desinteira”, que algo de ti se parta.
Tens medo disso. É esse medo que te prende para trás. Que te puxa para ficares
em terra. Que te retira as forças para dares o primeiro passo. De dares o salto
para o desconhecido, sem nenhuma certeza, sem nada tomado como garantido. Mas
tu tens que decidir. Tens de escolher. Ficares agarrada a esse medo. Ou
encarares isso e dares o salto. E veres o que acontece. Pode ser uma queda
agradável, que as coisas corram bem na viagem e chegas ao fim desta inteira e
feliz, com uma sensação tão agradável que te enche o peito e sentes-te tão bem
que nem consegues explicar, apenas sorrires por teres tido a coragem.
Precisas
que as tuas mãos trémulas agarrem a pontinha de coragem que por vezes parece
espreitar. Mesmo que tenhas as mãos suadas e o coração a bater de mais. Tens de
deixar o medo para trás. Dar o salto. Porque pode ser um desastre total. Sim.
Mas pode ser incrível.
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