Hoje apercebi-me que não sabia o que fazer
contigo. Não sabia onde te pôr agora que não te trago comigo. Já te tinha
deixado ficar, é certo. Já o tinha feito desde aquele dia (que para ser
sincera, já não me lembro bem quando foi, só vendo, mas ainda bem que não o sei
com precisão). Mas tinha-te apenas deixado para trás. Não estavas em lado
nenhum. Não é que te vá pôr um lugar especial. Não o mereces. Mas também não te
quero deixar assim no vazio. O vazio é algo demasiado grande para ti. E hoje
descobri o sítio onde te devia pôr. Pois foi. Eu tirei-te daquela caixa coberta
de pó que estava cheia de coisas antigas. Tu és antigo para mim. E estavas lá
juntamente com todas as outras coisas da minha infância. Agora… Agora vou-te
colocar numa gaveta onde já existem coisas antigas que não me fazem falta. Mas
as quais vou guardar. Numa gaveta daquela estante que são só gavetas. Vais
ficar lá. Porque lá, nessa gaveta que estou a falar, estão as coisas que de
algum certo modo foram importantes para mim num dado momento. Sim. Podes não o
ser agora. Mas tiveste alguma importância para mim. E assim guardo-te com um
certo carinho que uma pessoa tem pelas coisas antigas. Aqueles objectos que nos
fazem recordar de certos momentos. E que [anos mais tarde] nos deixam com um
leve sorriso no rosto. Ainda não o sei. Mas tu vais-me deixar com esse sorriso.
Um dia. Vais ser uma recordação, um momento feliz do meu passado. E por isso
vou-te guardar naquela gaveta. Juntamente com as outras coisas. Tem lá espaço
mais que suficiente para ti. Agora já não tinha qualquer sentido eu ter uma
gaveta só para ti. Não podias ter assim tanto da minha atenção e do meu tempo.
Não o mereces. Assim ficas na gaveta das coisas antigas. Das quais só nos
lembramos que estão lá quando a abrimos. E ficamos parvos por ter lá aquilo. E
depois… Depois vem o leve sorriso no rosto.
Sem comentários:
Enviar um comentário