Às vezes é preciso aprender a perder, a esconder o que mais queremos mostrar. Às vezes é
preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para
falar e então alinhar as ideias, usar a
cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, deixar tudo
bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca
daquilo que estamos a dizer. E mesmo que a voz trema por dentro, há que
fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração
bater desordenadamente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe
que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar que ele obedeça,
que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade. Às vezes é
preciso pensar que o tempo está a nosso favor, que o destino e as circunstâncias
se encarregarão de atenuar a nossa dor e de a transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua
época e que um diz também teve um fim. Às vezes mais vale desistir do que
insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar.
No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de
ter feito aquilo que devia ser feito. Às vezes é preciso mudar o que parece não ter
solução, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada
momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar tudo para dentro de uma gaveta e deitar a
chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir
esqueça o segredo.
*Margarida Rebelo Pinto
É isto mesmo e nada mais. Não me podiam ter tirado
de melhor maneira as palavras da boca. Por mais que às vezes queiramos fazer
algo. Dizer algo. Estar em algum sítio com alguém. Às vezes não o podemos
simplesmente fazer. Porquê? Porque não! Porque temos que alinhar as ideias.
Porque às vezes temos que usar a cabeça e não o coração. Por maior que seja a
sua vontade. Sei disto tudo e de mais. Sei que se tem que apagar a memória.
Sei. Mas sei o que há dentro. Sei que o coração bate desordenadamente. Sei o desejo
e a vontade. E também sei das palavras e das promessas. Quero acreditar que o
destino e as circunstâncias mudarão a situação. Mas também não quero esquecer
tudo e por numa gaveta da qual irei perder a chave.
Há coisas que simplesmente não podemos fazer!
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