estória §39


Trazes o tempo desfeito no que procuras em ti. Se olhares no fundo do peito, saberás quem és mesmo até ao fim. Faz parte ser um pouco perdido, faz parte começar outra vez, faz parte ir atrás dos sentidos e voar a sentir o mundo na ponta dos pés. 
*Mafalda Veiga

Também isto faz parte da vida. Não tens sempre que ter a certeza de quem és. O que queres. Para onde vais. Porque vais ou porque gostas. Porque acontece. Não tens que saber tudo de ti. Às vezes acontece. Ficar-se assim. Desfazes-te por dentro. Perdeste-te no tempo. O coração está aos bocadinhos e no chão à tua frente. Acontece sentires-te perdida. E passado uns tempos, olhas para ti. Olhas para as peças do puzzle e descobres uma maneira de o montar. Olhas para o fundo. Vês mais do que aquilo que está à tua frente. Vês a imagem completa. Vês o princípio, o meio e o fim. E tens a oportunidade de começar outra vez. Fazeres um novo caminho. Redescobrires-te. Sentires como se fosse a primeira vez. E ganhas a força que precisas para isso. Vais atrás de tudo o que sonhas. Dos sentidos. E ficas tão leve que te sentes capaz de o fazer. Voar. A sentir o mundo na ponta dos pés.
Acontece sentires-te perdida.

estória §38


Nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia, perfeito meu coração. Se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse.. Que perfeito coração morreria no meu peito, meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia, perfeito meu coração. 
*Amália Hoje

Vão e vêm. Como tudo na vida. Alguns ficam por um tempo. Dias, meses, anos, décadas. Mas acabam todos por ir. Enquanto ficam, enquanto estão connosco. O nosso coração cabe perfeito na mão do outro. Bate num compasso perfeito com o do outro. Perfeito. É tudo perfeito. E chega a altura em que já não se voa mais nesse sentido. Já não é perfeito. E fica então vazia, a mão onde perfeito bateu o coração. Fica assim por um tempo. Até que o nosso olhar encontra outro. Um novo olhar que fica preso ao nosso. E descobre-se um nova mão onde o nosso coração cabe perfeito, onde bate perfeito.
De novo tudo perfeito.